O Conselho de Ilha da Terceira, nos Açores, defendeu hoje alterações ao modelo de transporte marítimo de carga para a ilha e uma maior previsibilidade nas ligações aéreas de passageiros para o estrangeiro.
“É altura de começarmos a pensar que é melhor lançarmos um concurso público internacional, apenas com um operador, com um serviço muito bem definido e dar a devida indemnização financeira a essa companhia”, sugeriu o presidente do Conselho de Ilha da Terceira, Marcos Couto, numa reunião do órgão que decorreu na Praia da Vitória.
Perante críticas de vários conselheiros sobre os atrasos na chegada dos navios, com prejuízos para os empresários, Marcos Couto, que é também presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH), disse que o transporte de mercadorias para a região é, neste momento, “um oligopólio absolutamente descontrolado”.
“Ninguém fiscaliza nada, há uma cartelização clara entre os três operadores, só que a região, porque não tem de dar qualquer tipo de pagamento pelo serviço que tem, opta por fazer como Pôncio Pilatos e lavar daí as mãos”, afirmou.
Segundo o presidente do Conselho de Ilha, reeleito hoje, a região “não quer pagar” pelo transporte de mercadoria por via marítima para os Açores, que não está sujeito a obrigações de serviço público, e por isso vai encomendando estudos, mas “nunca decide nada”.
“Nunca houve coragem política de fazer rigorosamente nada no que diz respeito a este assunto”, frisou.
Para Marcos Couto, “se o mercado não tem escala para que as coisas funcionem de outra forma”, como alegam os operadores, deve ser aberto um concurso público internacional, mas que tenha “muito bem definido o que são as obrigações, [o navio] entra por onde, sai por onde e quando não cumpre [os horários] o que é que paga ou o que é que deixa de receber”.
“A economia da região e da ilha Terceira, claramente, não vai crescer enquanto isto não for alterado”, salientou.
Quanto às ligações aéreas para o estrangeiro na época baixa, o presidente do Conselho de Ilha lamentou que só tivesse sido anunciado um voo da Azores Airlines entre Terceira e Nova Iorque há duas semanas, alertando para “a possibilidade de algum insucesso”.
Segundo Marcos Couto, enquanto “as ligações para Nova Iorque e Boston via Ponta Delgada [ilha de São Miguel] nunca saíram do sistema”, as ligações das duas cidades norte-americanas para a ilha Terceira “foram disponibilizada no sistema há muito pouco tempo e isso leva a esforço redobrado” de promoção.
“O que eu acho altamente condenável é a forma como a Azores Airlines trata de forma diferenciada esta realidade da ilha Terceira e isso preocupa-me”, apontou.
O empresário revelou mesmo que, enquanto presidente da Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo, negociou “durante seis meses” com a companhia aérea do grupo SATA, alegando que “se não fosse a pressão política” não teria havido qualquer ligação.
Marcos Couto disse que foi criado um produto turístico “altamente diferenciador” para oferecer nestes mercados norte-americanos, que passa por vender cidades património mundial atlânticas, neste caso as cidades de Angra do Heroísmo e do Porto.
Havendo ligações aéreas entre Nova Iorque e Boston para a Terceira e da ilha para o Porto, o turista norte-americano pode visitar as duas cidades, que têm em comum “história, cultura e gastronomia”, explicou.
Os conselheiros discutiram, durante mais de uma hora, o parecer a dar à anteproposta de Plano de Investimentos da Região para 2025, mas acabaram por decidir criar um grupo de trabalho, que reúna contributos das várias entidades representadas, e adiar a votação para uma reunião extraordinária, no final de outubro.
Foi, no entanto, decidido, por maioria, que o parecer não fará uma avaliação positiva ou negativa do documento, apresentando apenas uma listagem de aspetos positivos e negativos.
O Conselho de Ilha é um órgão consultivo do Governo Regional dos Açores composto por autarcas e representantes de organizações sociais, ambientais, culturais e empresariais da ilha, bem como deputados e um membro do executivo, que não têm direito a voto.