É comum dizer-se que o desporto é uma escola de virtudes. Por regra assim é, embora em muitas circunstâncias o alto poder económico que envolve as modalidades mais mediáticas se sobreponha à verdade e espírito desportivos, fazendo tábua rasa dos mais elementares princípios éticos. E neste contexto os Jogos Olímpicos perderam parte dos fundamentos lançados por Coubertin, verdade se diga, também ganhando uma espetacularidade competitiva e tecnológica sem paralelo à escala global.
Por entre tantos interesses, foi reconfortante ver a final do concurso do salto com vara. Ninguém questionava o favoritismo de Duplantis, recordista mundial e a prova seguiu o ambicioso guião, à espera que o atleta sueco chegasse aos ensaios para um novo recorde do mundo. E como previsto, a marca subiu mais um centímetro.
Mais do que o privilégio de assistir em direto a este notável feito, para mim foi gratificante testemunhar o irrepreensível espírito desportivo do principal adversário do campeão olímpico. Sam Kendricks, o recordista americano, que por duas vezes já conquistou o título mundial, não regateou aplausos e incentivos a Duplantis, rendido ao brilhantismo de quem o destronou na modalidade. Tamanha humildade e elevação não são habituais e até passam desapercebidas do grande público, muito por culpa da indiferença dos narradores televisivos. Mas isso devia ser tão elogiado quanto a superação da melhor performance do planeta.
Reconhecer os méritos de um adversário e respeitar a sua dignidade são imperativos, na vitória como na derrota. E também na política, acrescento.