Furnas Lake Forest Living

Em pleno verão, a freguesia das Furnas encontra-se repleta de visitantes, que, tal como os comerciantes, consideram que não existe turismo a mais, mas pedem soluções para ordenar o trânsito e disciplinar as zonas mais frequentadas.

Conhecida pelas fumarolas que brotam da terra, pelas nascentes de águas termais amareladas ou pelo cozido confecionado debaixo da terra, a freguesia das Furnas, no concelho da Povoação, em São Miguel, é um dos locais mais procurados pelos turistas que visitam a ilha, servindo de barómetro à atividade turística na região.

“Mesmo com as águas fechadas, isso está assim. Dá para ver, não dá?”, interroga de forma retórica Maria Monteiro, apontando para a azáfama no centro da freguesia junto dos restaurantes e dos táxis.

A funcionária de uma loja de lembranças referia-se à proibição de banhos nas piscinas termais do Parque Terra Nostra e da Poça da Dona Beija por suspeita de contaminação microbiológica da água, o que também levou ao encerramento da Caldeira Velha.

“Claro que há muitos turistas que ficam desiludidos, mas não deixam de vir cá só porque as termas estão fechadas”, prossegue, notando que existem “mais pessoas do que no ano passado”, apesar de o “poder de compra estar mais baixo”.

Fazendo-se valer do convívio diário com os turistas, a comerciante afirma que existem muitos visitantes, “principalmente os que já veem há muitos anos”, que “não estão a gostar do que veem” porque “não encontram o silêncio”.

Por isso, defende, é “preciso turismo”, mas “também são precisos limites”.

“Todos são bem-vindos, mas também queremos que todos desfrutem do que temos. O que nós tínhamos era a paz. Íamos a algum sítio e conseguíamos desfrutar da natureza. Cada vez já há menos isso”, lamenta.

Um dos restaurantes mais agitados da freguesia é o Tonys, habituado a servir entre 500 a 700 refeições por dia. “Tal como o ano passado”, o espaço “está sempre cheio”, adianta Gualter Carvalho, um dos responsáveis.

“Está ao nível de 2023. Toda a gente passa por cá. Gente de todas a nacionalidades. Não notamos o fecho das termas porque temos a casa sempre cheia”, assume.

Para o Tonys, o “grande objetivo” é “manter a qualidade” mesmo com as enchentes.

Para a freguesia, o “desafio” passa por encontrar “soluções para o trânsito”, um “problema antigo” que se “agravou muito” com o aumento do turismo, considera Gualter Carvalho.

“O trânsito é um grande desafio. Quer para turistas, quer para quem vive cá. Para quem está à frente das instituições, é uma das coisas que é preciso mesmo batalhar. Mais do que pensar, têm de encontrar soluções porque isso tem de ser resolvido”, alerta.

No exterior do restaurante, após terem saboreado as iguarias regionais, Adam e Simona, naturais da Eslováquia, trocam impressões sobre o roteiro a seguir. Estavam a pensar ir às termas, mas com o encerramento vão ter de arranjar uma alternativa.

“É uma ilha linda. A natureza é muito bonita. Estamos um pouco desiludidos porque as termas estão fechadas. É um aspeto negativo, mas está tudo a correr bem. Felizmente há muita coisa para fazer”.

O casal escolheu a ilha de São Miguel como destino de férias após terem ficado “maravilhados” com as imagens que viram nas redes sociais. A experiência tem sido “ótima”, apesar de existirem “bastantes turistas”, uma “circunstância previsível nesta altura do ano”.

“Notamos é que nos locais mais frequentados há sempre muitos carros e torna-se difícil estacionar”, destaca Adam.

Já na zona das caldeiras, o sabor da afamada “Água Azeda” origina um intenso debate entre sete pessoas, naturais de Badajoz, em Espanha.

“Eu cá gostei da água. Tenho gostado de tudo, aliás. Não sinto que haja muita gente. Consegue-se estar nos sítios muito bem. Não há massificação turística. Preferimos assim”, diz Juan José, que serve de porta-voz do grupo que vai conhecer três ilhas ao longo de 15 dias nos Açores.

Por sua vez, Jordi, catalão a viver em Maiorca, confessa que esperava uma “ilha mais selvagem” e com “um bocado menos de turismo”, apesar de ressalvar que “está a gostar muito”.

“Há zonas onde o turismo já é demais, mas a verdade é que nós enquanto turistas estamos a contribuir para isso. É normal, mas creio que as autoridades têm de tentar regular isso. Nós viemos de Maiorca. São ilhas muito massificadas. Sabemos bem a consequências do turismo”, avisa.

Em certos períodos, regista-se um intenso fluxo em alguns dos pontos mais visitados das Furnas, o que dificulta a circulação automóvel. Ainda assim, a comerciante Nélia Linhares, que vende os típicos bolos lêvedos nas caldeiras, realça que “muita gente não é sinónimo de muita venda”.

“Não acho que tenhamos turismo a mais. Não se pode tirar conclusões com base num dia ou outro. É mais uma questão de organização, de regular os carros, o trânsito e algumas zonas com mais gente”, defende.

Na lagoa das Furnas, entre os curiosos que procuram testemunhar como se cozinham refeições com o calor vulcânico, um dos locais mais concorridos é a carrinha da família Amaral, sobretudo devido aos gelados e às bebidas frescas.

“O ano passado já tivemos um acréscimo e este ano continuamos pelo mesmo caminho. Turismo não falta. O acréscimo parece que é para continuar. Maio e junho eram meses um pouco fracos, mas agora já são bons. Até setembro o negócio vai bem”, revela Rui Amaral.

As caldeiras não são suficientes para dar resposta à procura pelos cozidos, mas o empresário defende que “não existe um excesso de turismo”, lembrando o “impacto global” do setor na economia. Existem, contudo, “desafios a ultrapassar”.

“O principal desafio é o estacionamento e fazer com que o dinheiro investido na freguesia tenha retorno. Podia-se tentar fazer um roteiro a partir de um grande parque de estacionamento, onde haveria acesso a bicicletas ou autocarros para tentar regular o turismo”, sugere.

Nas margens da lagoa, Manuel Odifreddi procura interagir com os patos que por ali passeiam. O italiano conta que descobriu os Açores no ‘Google Maps’: uma “descoberta agradável” e que até já superou as expectativas.

“Foi por isso que viemos: pelo verde. Pela natureza. Chamou-nos a atenção ver as ilhas no meio do oceano. Assumo que está a ser melhor do que esperava. É muito bonito. Não há muitos turistas, esperava que houvesse muito mais. Oxalá continue assim”.

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