A produção de vinho nos Açores poderá ter este ano uma quebra de 50% face a 2023, mas as estimativas apontam para vinhos de “boa qualidade”, admitiu hoje o presidente da Comissão Vitivinícola Regional (CVR).

Em declarações à agência Lusa, o presidente da CVR, Vasco Paulos, disse que a quebra de produção, devido a doenças e aos ataques das aves, está estimada em 50% relativamente à campanha de 2023, admitindo que possa igualar-se a 2022, que foi, “nos últimos anos, o ano pior de todos”.

“O ano passado vindimámos […] pouco mais de 500 toneladas de uva apta a produzir vinho de Dominações de Origem e Indicação Geográfica Açores. A primeira estimativa que fizemos [este ano], andava à volta de 350 a 370 toneladas, o que seria sensivelmente 30% de redução”, relatou.

Segundo Vasco Paulos, a primeira estimativa prendia-se com o facto de haver “castas com rebentações mais tardias, que tinham demonstrado uma rebentação mais heterogénea e, nalguns casos, com ausência de uva nascida e, por outro lado, castas com rebentações mais precoces, como é o caso do verdelho, que já estavam em estado de floração quando aconteceram, em maio e em junho, algumas chuvas com alguma intensidade e que provocaram ataques consideráveis de míldio que provocaram abortos florais”.

“Esse primeiro decréscimo e essa primeira estimativa prendia-se com esse facto de doenças e ausência de uva nascida de algumas castas”, salientou.

No entanto, acrescentou, nas últimas duas semanas, tal como já aconteceu em anos anteriores, “os pássaros têm estado a infligir prejuízos bastante consideráveis” nas vinhas.

“Estimamos que, a continuar o ataque dos pássaros até à vindima, se se mantiver nesta ordem de grandeza, poderá haver um decréscimo que, para além dos 30%, poderá chegar até inclusivamente aos 50% relativamente ao passado”, admitiu o presidente da CRV Açores.

Por isso, a produção de vinho será de 250 a 280 toneladas, anteviu.

“Foi o que vindimámos em 2022, que foi, nos últimos anos, o ano pior de todos”, disse.

“No entanto, estamos descansados relativamente à qualidade, porque, até à data, as uvas existentes apresentam boa qualidade, o que se traduzirá, certamente, numa boa qualidade do vinho, que é fator fulcral, basilar, para que possamos manter os preços dos vinhos em alta, porque a qualidade é inerente e, consecutivamente, as uvas poderão ser bem pagas aos produtores, porque há menos”, afirmou.

Vasco Paulos referiu ainda que as vindimas, tal como no ano passado, começarão “muito brevemente” e “durante a próxima semana, primeira semana de agosto, início da segunda semana de agosto, já deve haver vindimas a acontecer”.

“Não tanto por causa dos ataques dos pássaros, mas sim porque as uvas têm vindo, ao longo dos últimos anos, a manifestar uma maturação mais precoce do que era habitual”, justificou.

O presidente da CVR Açores referiu ainda à Lusa que, em alguns casos, as vindimas irão prolongar-se até meados de setembro, porque existem produtores “com algum tipo de vinho específico, que necessitam que as uvas tenham outro tipo de maturação, que só é garantido aguentando-as nas vinhas”.

Também este ano, uma vez mais, haverá dificuldades de mão-de-obra para a realização das vindimas no arquipélago dos Açores.

Segundo o responsável, trata-se de um problema recorrente e de difícil solução, dado que a viticultura é muito exigente em termos de mão-de-obra, “porque é quase nada mecanizável e as exigências são muito grandes, principalmente na altura das podas e das vindimas”.

Na área da CVR Açores, com quatro regiões demarcadas, existem 34 produtores de vinho e 62 vinhos certificados (que se traduzem em mais de 150 referências comerciais).

A paisagem da cultura da vinha do Pico é um sítio classificado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) desde 2004.

 

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