A fase terminal da monarquia portuguesa pôs fim ao regime de morgadio; o filho varão primogénito deixou de ser o herdeiro único dos bens familiares, por isso mesmo inalienáveis e indivisíveis. E a República, naturalmente, encarregou-se de extinguir o último morgado, que propositadamente sobrevivera, o da Casa de Bragança.
Chegados à democracia, mais razões se juntaram ao princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei, independentemente do sexo, condição social ou crença. E o acesso a cargos e funções passou, obviamente, a orientar-se por critérios de mérito.
As relações familiares tornaram-se suspeitas neste quadro de isenção e transparência, mesmo em casos de manifesta competência e direito. Para o bem e para o mal, o parentesco tornou-se um problema na política.
Tudo leva a crer que a transição de líder no PS/Açores está ferida por este problema. Sem querer questionar a legitimidade e capacidade política do único candidato (?), a chegada de Francisco César à liderança socialista regional nunca será verdadeiramente imaculada. Por muito tempo vão tomá-lo por ser o filho de quem é e por receber o partido à laia de morgadio, quer dizer, como uma herança familiar, provisoriamente administrada pelo camarada Cordeiro.
Aliás, como diligente feitor que foi, o dr. Vasco já se apressou a elogiar o herdeiro do vínculo. Fê-lo por dever ou em jeito de fatura pelos serviços prestados? O tempo encarregar-se-á de nos revelar a verdadeira intenção. Empurrar agora Francisco para a “boca do lobo” pode ser a vingançazinha retroativa de quem nunca foi plenamente livre…