Com efeito, foi em 1969 que começou o debate acerca da relocalização do aeroporto da Portela, devido à galopante expansão urbana da cidade de Lisboa.

Numa primeira fase, a escolha caiu sobre Rio Frio, no que diz respeito à localização do novo aeroporto, contudo, no pós-revolução, o cenário mudou, tendo sido escolhida a Ota como o local ideal para a construção do novo aeroporto, em 1978.

Até à década de 90, não houve alterações no dossier referente ao aeroporto, todavia, aquando da adesão de Portugal à CEE, o processo de escolha foi reaberto, com três hipóteses fundamentais, Rio Frio, Ota e Montijo.

Em 1999, o governo de António Guterres optou pela Ota, depois de terem sido conhecidos e divulgados os estudos de viabilidade económica e ambiental. A escolha de Guterres foi alvo de críticas, tendo passado por sucessivos governos sem que se chegasse a uma decisão concreta. Ora, em 2005, decidiu-se, finalmente, avançar com a construção na Ota, tendo sido a nova infraestrutura orçamentada no valor de 3,1 M de € e tinha data prevista de inauguração para o ano de 2017. Mais uma vez, o processo não avançou devido a uma avalanche de críticas, nomeadamente, quanto à complexidade topográfica e hidrológica do local escolhido.

Em 2008, um estudo coordenado pelo Laboratório Nacional de Engenharia apontou Alcochete como a opção mais viável, sobretudo em termos de segurança aérea. Assim, o governo abandonou o projeto Ota e aprovou a localização de Alcochete. Em 2010, em plena crise do Euro, e não dispondo José Sócrates de maioria absoluta no parlamento, foi suspenso o projeto do novo aeroporto, como forma de redução do défice, em Portugal.

Seguindo a novela cronológica acerca do novo aeroporto e respetiva localização, Passos Coelho apresentou a solução Portela+1, na medida em que se poderia aproveitar o atual aeroporto da Portela e reduzir os custos associados à construção de um novo aeroporto, fazendo as adaptações necessárias para a sustentabilidade desta solução. Mais uma vez, a solução não foi unânime e, o projeto permaneceu na gaveta.

Em 2016, já com António Costa como primeiro-ministro, o governo socialista seguiu a proposta do governo Passista e adotou a solução Portela+1, alterando a localização para o Montijo, fazendo uso das instalações militares da base aérea. Volvidos dois anos, em 2018, Costa garantia um acordo nacional para a solução apresentada, ficando esta dependente do estudo acerca da viabilidade ambiental que chegaria em 2019. Ora, não será difícil compreender que, entre 2019 e 2021, e fruto do parecer ambiental negativo, tendo em vista a solução apresentada, bem como uma série de recursos de diversas associações ambientais, a ANAC indeferiu o pedido de apreciação de viabilidade de construção no Montijo.
No total, ao longo dos últimos 50 anos, já foram estudadas ou ponderadas 18 localizações para a construção de um novo aeroporto, em Lisboa. Certo é que a Portela já está para lá da sua capacidade máxima, o que impacta as condições dos usuários daquele aeroporto, bem como acentua a degradação da infraestrutura. Em 2023, o aeroporto do Lisboa movimentou 33,6 milhões de passageiros, aumentando o fluxo em 19,1%, em comparação com 2022.

Estamos há mais de 50 anos a discutir o assunto da localização do novo aeroporto, sendo fundamental, fruto da atual configuração parlamentar e consequente instabilidade governativa, que os partidos com maior representação se entendam e sejam conscientes quanto à urgência desta decisão. Veremos o que acontece.

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