“Depois de comer não faltam colheres”. A expressão é muito antiga. Sempre a conheci. Aliás, era muito utilizada no meu bando cada vez que alguém se atrevia com arrogância de conhecimento naquilo que era evidente e todos havíamos testemunhado – uma espécie de prognóstico depois do jogo terminado.
Assim parecem certos políticos e alguns partidos da nossa praça. Quando um assunto é notícia e o desfecho é inevitável, lá vêm eles, sorrateiramente para apanhar os desprevenidos, com os requerimentos parlamentares, que se tornaram expediente para fazer prova de vida a tão fraca gente.
Perante as evidências, o requerente faz de conta que se trata de uma novidade, do resultado da sua perspicácia analítica, da capacidade de intuir os problemas que afligem a plebe, quiçá, também o empresariado, de partilhar as dores que a maldita e insensível governação ignora ou faz por esquecer. Há quem se condoa com estes missionários da desgraça alheia, e mais, lhes faça vénias ao requerimento.
Acontece que, na sofreguidão de evidenciar utilidade no sistema, estes doutos políticos se esquecem de tratar do problema, de saber a sua origem e, sobretudo, avançar com uma solução, tecnicamente exequível e financeiramente viável. Sem isso, nada feito, de nada vale conhecer as preces e dominar os rituais porque nestas coisas não há milagres. É assim com o concurso para a privatização da SATA Internacional. A venda é um imperativo ditado por Bruxelas em consequência da ruinosa gestão socialista. E o prazo para o fazer coincidiu com a pior conjuntura do mercado. Agora é fácil dizer que o concurso tem de ser anulado. Não faltam colheres.