Esta terá sido, porventura, a semana mais negra do mandato presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República foi sempre, na minha perspetiva, uma espécie de cata-vento no que diz respeito à opinião pública. Marcelo procurou, por diversas vezes, colher a simpatia dos eleitores assumindo publicamente, determinadas posições fraturantes.

A figura Presidente da República é, a meu ver, o fiel da balança, no que concerne ao equilíbrio dos poderes e à mediação de conflitos, bem como o pilar fundamental à manutenção de diálogo entre os diferentes atores políticos.

Também a figura do Presidente da Assembleia da República deve alinhar pelo mesmo diapasão. Ora, também considero que José Pedro Aguiar-Branco não foi feliz nos comentários acerca da Procuradora-Geral da República, sobretudo no que diz respeito à importância do princípio da separação de poderes.

Além disso, as recentes declarações de Marcelo, seja na questão associada aos prejuízos das ex-colónias, seja naquilo que foi uma absurda e abjeta comparação entre António Costa e Luís Montenegro, onde imperou falta de consideração por ambos, ou até nas declarações que fez relativamente à relação com o seu filho, numa tentativa de esvaziamento da importância e relevância que Marcelo terá, alegadamente, tido no caso das gémeas luso-brasileiras.

Pede-se à principal figura da nação algum recato, e que se lembre, sempre, da sua posição política, que é fundamental para a manutenção da credibilidade nas instituições democráticas. Não podemos falar de populismo e de polarização de opiniões apenas em momentos de campanha eleitoral, não é apenas aí que se combate estes flagelos.

O processo de erosão da democracia em Portugal está em andamento e, as principais figuras nacionais desempenham um papel determinante na mitigação desta questão. Saibam estar à altura do desafio, de modo a não contribuir para o aumento da onda populista que vem assolando o continente europeu e, também Portugal.

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