Alexandra Manes

A nova composição de governo senta à mesma mesa defensores de Vistos Gold (que, de acordo com um artigo científico publicado pelo Institute of Labor Economics, na Alemanha, e divulgado pelo Observatório Fiscal Europeu, inflacionaram o preço da habitação), privatizadores dos cuidados de saúde, opositores aos direitos dos trabalhadores. Uma viragem radical, num momento difícil para um país que, lentamente, ascende nos indicadores sociais.

E já que se fala de Vistos Gold, importa relembrar o papel que o executivo do PSD/CDS e o Turismo de Portugal, na pessoa de Cotrim Figueiredo, tiveram quando após a invasão à Crimeia foram à Rússia acelerar a venda de Vistos Gold para os oligarcas, contribuindo assim, para o lobby da especulação imobiliária.

O fim do ministério da Habitação e do ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (este último já levou à indignação de mais de vinte federações e associações académicas e do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, que lamentou a fusão dos Ministérios da Educação, Ciência e Inovação considerando tratar-se de um retrocesso), diz muito sobre aquilo que será este Governo, enquanto durar. E desengane-se quem considere positiva a criação do ministério da Juventude e Modernização, pois parece criado à medida de Margarida Balseiro. Uma ministra tão moderna, mas tão moderna que, num debate recente na SIC Notícias, comparou a reversão da IVG com a reversão da privatização da TAP…

O Ministério da Educação terá Fernando Alexandre na sua liderança, aplaudido pela associação de colégios privados, dirigente do “think-tank +Liberdade”, tendo defendido o fim definitivo do 14º mês para os pensionistas e funcionários públicos, incluindo os professores. Um economista que se teme levar para uma das pastas mais importantes e determinantes para o futuro do país, uma perspectiva economicista e de mercantilização do ensino.

A Rita Júdice calhou o Ministério da (In)Justiça, onde o mérito prevaleceu, já que foram 25 anos no escritório do pai (Miguel Júdice) a vender hotéis e tudo. Parece estamos perante aquilo que Marx e Engels definiram como “uma comissão que administra os negócios comuns do conjunto da classe burguesa.”, de certas frações dessa classe, na realidade.

O chega ficou de fora do atual elenco governativo. Foi penoso assistir aos sucessivos apelos de Ventura para ser incluído no governo, quando há dois anos dizia nunca o fazer. Mas, Ventura é assim: diz e contradiz-se sucessivamente e já deixou bem claro que ele e os 49 eleitos não estão ali para defender as pessoas, mas sim, para fazer crescer a extrema direita, em Portugal. Por enquanto, as e os seus votantes estão num estado de que tudo o que Ventura diz é ouro, até ao dia que sentirem a acidez das medidas políticas do chega, na sua vida.

Quanto a Rita Matias e a imigração, foi uma #vergonha assistir à forma como se refere às pessoas imigrantes, como se de objetos ou de carga se tratasse. No entanto, o problema do chega com a imigração, é unicamente com o imigrante pobre. O discurso da extrema direita e dos liberais revela que estrangeiros do norte global estão isentos de conotação negativa pela condição económica que possuem.

A procissão ainda nem do adro saiu e já se percebeu que este governo não se formou para resolver os problemas reais do país.

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