O bispo de Angra afirmou esta noite que o mundo precisa de “lavadores de pés e de bandeiras e aventais brancos” que levem a paz e a esperança aos cenários de guerra mais próximos- Ucrânia e Terra Santa- mas também aos hospitais, às cadeias e aos campos de refugiados.
“Se, neste dia de Quinta-Feira Santa, Jesus quisesse colocar um anúncio nas nossas casas de família, nos hospitais, cadeias, recolhimentos, casas de acolhimento, centros sociais, misericórdias, campos de refugiados, lugares de guerras, penso que colocaria: ´Precisam-se amigos e lavadores de pés´ “ afirmou D. Armando Esteves Domingues na homilia da missa vespertina da Ceia do Senhor com a qual se inicia o tríduo pascal.
“Precisamos em todos estes lugares de quem agarre no avental branco, qual bandeira de paz e justiça, não para se render ao inimigo, mas para redobrar os cuidados pelas vidas de irmãos com os pés sujos de pó e das feridas, cansados da tortura dos caminhos” prosseguiu lembrando a necessidade de “aventais ou bandeiras brancas que mostrem a força arrasadora do amor autêntico e límpido que nunca desarma”.
“O novo mundo começa aqui, resistindo à violência. Penso nos nossos irmãos e irmãs em Kiev, em Kharkiv, em Lviv, na Terra Santa, em Gaza, etc. Quantos ali continuam a ajudar, a socorrer os mais fracos, encontrando, mesmo nestas horas tão difíceis, neste amor que lava-pés, a força interior e a vitória sobre os medos” sublinhou o prelado que preside a este tríduo pascal na Sé de Angra.
“É a humilde majestade dos gestos, a sua densidade, o silencioso e poderoso magistério das realidades que numa ceia, são tornadas eloquentes pelo dom, pela oferta irreversível que Jesus faz de si mesmo” explicou o bispo de Angra aos fiéis que, de uma forma crescente, participam nas celebrações na Sé de Angra.
A partir do Evangelho de João, proclamado e que convida os cristãos a entrar na última Ceia, antes da prisão de Jesus, D. Armando Esteves Domingues referiu-se à casa como o espaço “de encontro, da família e das manifestações de afecto”, onde todos contam e são tratados por igual.
“Na casa de família, se não for mera residência, tudo é de todos, há ajuda recíproca, complementaridade e os gestos são medidos, têm significado e consequências” destacou o prelado diocesano que preside a estas celebrações na catedral pelo segundo ano consecutivo.
“A esta ceia, caros irmãos, chegamos cheios de questões escaldantes e seria bom aproveitar e falá-las à mesa” assinalou lembrando que este é o momento da partilha, depois de uma longa conversão, que “liberta da escravidão para o serviço alegre do Senhor e dos rmãos”.
“Penso naqueles que se esforçaram durante a Quaresma por dizer “confesso a Deus e a vós irmãos” como sugeria na Mensagem para a Quaresma, e que saberão, melhor do que antes, que precisam de perdão; aqueles que partilham a dor do mundo, todos nós, que estamos perturbados com o conflito na Ucrânia e na Terra Santa e todas as feridas infligidas aos inocentes; aqueles que gostariam de ter um futuro melhor para os seus filhos, veem ainda muita, muita escuridão à sua volta; os frágeis que procuram um abraço de misericórdia e de esperança e ficam à espera”.
Nesta celebração em que se faz memória da instituição da Eucaristia, D. Armando Esteves Domingues lembrou que a comunhão do pão e do vinho tem de traduzir-se em gestos concretos de serviço e de amor ao próximo.
“Os atos, mais do que discursos e declarações, o modo de fazer e de se comportar mais do que a abstração das ideias: é isto que os cristãos transmitem de geração em geração”, concluiu.
Durante a celebração, e recuperando o gesto do lava-pés de Jesus aos seus discípulos, também o bispo de Angra hoje lavou os pés a 12 jovens da catequese da Sé, seis deles preparam-se para celebrar o sacramento do Crisma.
“Os pés dizem sem fingimento o cansaço do caminhar, não têm outra expressão senão a verdade. Dizem da necessidade de ser cuidados e purificados pela amizade que derruba barreiras e distâncias” assinalou D. Armando Esteves Domingues ainda na homilia a propósito deste gesto escandaloso de Jesus que diz mais do Seu amor por nós do que a nossa capacidade em nos considerarmos fracos e necessitados”.
“Jesus, com a sua vida e com aquele gesto, explica o que é a sua existência e o que pode ser a nossa: olhar os outros sempre, todos os dias, sem nos escandalizarmos, amar a sua fraqueza, reavivar em gestos de ternura, de amor audaz, a sua dignidade”, conclui.
No final da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares.
Na Sexta-feira Santa não se celebra a Missa, tendo lugar a celebração da morte do Senhor, com a adoração da cruz; o silêncio, o jejum e a oração marcam este dia.
De manhã, na Sé, haverá oficio de leitura e laudes. Depois às 19h00, Via-sacra seguida da procissão do Senhor Morto.
O Sábado Santo é dia alitúrgico: a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor e a única celebração primitiva parece ter sido o jejum.
A Vigília Pascal é a “mãe de todas as celebrações” da Igreja, evocando a Ressurreição de Cristo.
Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Batismo, por fim, a liturgia Eucarística.