Os resultados eleitorais só surpreenderam os mais distraídos. De facto, o crescimento avassalador do Chega, no que diz respeito à sua representação parlamentar, é paradigmático daquilo que foram os últimos anos de governação.
Nos dois governos de Costa, as manobras do PS provocaram uma significativa erosão do sistema político na sua globalidade. Em todo o espectro político não houve capacidade de resposta aos anseios dos cidadãos portugueses. Os problemas foram-se arrastando e foram-se também agravando, motivo pelo qual os eleitores se fartaram de esperar por novidades de quem nada de novo consegue trazer. Prova disso é a queda abrupta que a esquerda, em conjunto, teve nas eleições do passado domingo.
Ora, se analisarmos aquilo que foram os resultados desde 2019, percebemos claramente que a esquerda conseguiu a proeza de após ter registado o seu melhor resultado eleitoral de sempre, cifrado em mais de 57% dos votos, obter agora pouco mais de 40% das preferências dos eleitores, o que por si só, para além de significar uma viragem clara do país à direita, significa também uma derrota desastrosa, atenuada apenas pelo assinalável crescimento do Livre, que adaptou muito bem a mensagem aos tempos turbulentos que vivemos.
Também o PSD fica muito aquém daquilo que se preconizava nos cenários pré-eleitorais. A palavra de ordem para os resultados do PSD é a desilusão. A vitória é demasiado magra, e Montenegro terá de ser um mestre na arte da negociação para levar a bom porto a sua estratégia para o país. Pedro Nuno já anunciou que vai ficar no seu pedestal, a observar aquilo que serão os desenvolvimentos das próximas semanas, garantindo a viabilização do governo mas não do orçamento de Estado. Ora, o ónus ficará do lado do Chega, mais uma vez e, tal como aconteceu nos Açores.
Acredito que o Chega não quererá ser o motivo da instabilidade governativa no nosso país, sobretudo por toda a falta de sentido de Estado e de responsabilidade que lhe seriam imputadas. Como tal, o governo liderado por Montenegro terá, obrigatoriamente, de resolver os problemas mais prementes dos cidadãos se quer esvaziar o Chega de argumentação e destaque político. Intervir na saúde, educação, habitação e segurança, são os pilares fundamentais para a manutenção da solução governativa que o PSD lidera.
A revolução de Abril foi esquecida. Cumpra-se abril e resolvam-se os problemas das pessoas. Já todos percebemos onde nos leva a insatisfação com a ausência de políticas públicas condizentes com as necessidades alarmantes de diferentes setores da sociedade.
A palavra está do lado do vencedor das eleições. Montenegro tem de ser paradigmático. Não joga apenas o seu futuro, nem do seu governo, mas também do seu partido. A vitória eleitoral permite-lhe um balão de oxigénio que pode ser determinante para o futuro do país. Saiba ele aproveitar a oportunidade e o PSD não será dizimado nem espartilhado por ambos os lados do espectro político.