O líder do Chega/Açores, José Pacheco, disse hoje que só tomará uma decisão sobre a votação do Programa do Governo depois de conhecer o documento e a composição do executivo regional, mas insistiu que quer fazer parte da solução governativa.
“Eu não conheço o Programa do Governo, eu não conheço os elementos do Governo, não me posso pronunciar sobre uma coisa que eu não conheço. Lamento que o PS o tenha feito”, afirmou, em declarações aos jornalistas.
José Pacheco falava em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, à saída de uma audição com o representante da República para a Região Autónoma dos Açores, Pedro Catarino.
A coligação PSD/CDS/PPM venceu as eleições regionais, no dia 04, com 43,56% dos votos, mas elegeu 26 dos 57 deputados da Assembleia Legislativa, precisando de mais três para ter maioria absoluta.
Na noite eleitoral, José Pacheco disse que só viabilizaria o Programa do Governo se integrasse o executivo e se CDS-PP e PPM ficassem fora, mas o líder do PSD/Açores, José Manuel Bolieiro, insistiu hoje que pretendia formar um governo de maioria relativa, sem acordos com outros partidos.
À saída do encontro com Pedro Catarino, o líder regional do Chega defendeu que os Açores precisam de “estabilidade”.
“Queremos estabilidade nos Açores, estamos abertos ao diálogo, a construir uma solução governativa, em que o Chega também tem alguma participação, de forma bastante positiva e rejeitamos qualquer coligação negativa para derrubar qualquer governo”, adiantou.
Confrontado com o facto de o líder do PSD/Açores já ter dito que não iria negociar com o Chega, José Pacheco ressalvou que ainda não recebeu essa informação formalmente.
“Eu não costumo tomar posições pela comunicação social ou pelas redes sociais, eu tenho posições com os meus colegas de partido e com aquilo que formalmente nos for dito. Até à data não nos foi dito nada”, apontou.
Se José Manuel Bolieiro não o contactar, o líder do Chega/Açores adiantou que reunirá a direção regional do partido e tomará “uma decisão, que garantidamente será de força”.
“Alguém está à espera que vamos chegar ao parlamento e o Chega vai aprovar, com a chantagem da coligação, para o bem dos Açores? Para o bem dos Açores não é fazer as coisas como se quer, isso tem um nome, chama-se ditadura. Nós não aceitamos ditadura”, assegurou.
Questionado sobre se admitia abster-se na votação do Programa do Governo, se não integrar o executivo, José Pacheco respondeu: “Admitimos tudo. Depende muito do que vamos ter na frente, que Programa de Governo vamos ter na frente, que elementos governativos vão ocupar as secretarias”.
“Eu não posso votar um programa de governo que vá contra o nosso manifesto eleitoral, isso seria contra natura, seria enganar os eleitores. Se estão a tentar forçar eleições, vão ficar com essa responsabilidade”, acrescentou.
Quanto à exigência de ter CDS-PP e PPM fora do executivo, o dirigente do Chega garantiu que não tem qualquer problema com os dois partidos, mas tem “um problema muito grave com os dois senhores que lá estão [líderes regionais dos partidos], que a única coisa que fizeram foi usar os Açores para se governarem, não foi para governar os Açores”.
“Onde é que eles estiveram na campanha eleitoral? Em São Miguel, especialmente, não os vi. Andaram aí escondidos. Porquê? Porque sabiam que eram tóxicos para a governação e para a campanha”, salientou.
No entanto, José Pacheco também teceu duras críticas ao secretário regional das Pescas, indicado pelo PPM, mas não líder do partido, e quando questionado sobre se admitia formar governo com outros dirigentes dos dois partidos disse: “eu admito tudo e mais alguma coisa”.
“Se acham que eu vou pôr a fasquia pelo chão, não”, acrescentou.
O representante da República dos Açores deverá indigitar o novo presidente do Governo Regional na terça-feira, depois de ouvir todos os partidos com representação parlamentar na região.
De acordo com o número 1 do artigo 81.º do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, “o presidente do Governo Regional é nomeado pelo representante da República, tendo em conta os resultados das eleições para a Assembleia Legislativa, ouvidos os partidos políticos nela representados”.
O chefe do executivo regional tomará posse perante a Assembleia Legislativa, cuja instalação está marcada para quinta-feira.
Em 2020, o Chega assinou um acordo de incidência parlamentar com PSD, CDS-PP e PPP, que permitiu à coligação ter a maioria dos votos no Parlamento, apesar de o PS ter vencido as eleições.
O partido absteve-se na votação do orçamento da Região para 2024, chumbado com os votos contra de PS, BE e IL, o que levou o Presidente da República a convocar eleições antecipadas.