Os primeiros 11 ranchos de romeiros, de um total de 56, começam sábado a percorrer as estradas da ilha de São Miguel, nos Açores, voltando a cumprir uma tradição quaresmal com mais de 500 anos.
“Este ano seremos 56 ranchos, dos quais 54 de São Miguel e dois de Toronto, no Canadá. Já no próximo sábado saem 11 ranchos incluindo o primeiro rancho de Toronto. E no domingo vão sair também mais dois ranchos”, adiantou o presidente do grupo coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel, João Carlos Leite, em declarações à agência Lusa.
Todos os anos, no fim de semana a seguir à Quarta-feira de Cinzas, dezenas de grupos de romeiros, trajando uma indumentária específica, que inclui xaile, lenço, saco para alimentos, bordão e terço, percorrem as estradas da maior ilha açoriana entoando cantos e orando.
O percurso de cada rancho dura uma semana e pernoitam em casas particulares ou em salões paroquiais.
Os primeiros ranchos partem no fim de semana a seguir à Quarta-feira de Cinzas e os últimos regressam às suas localidades na Quinta-feira Santa.
“Seremos 56 ranchos e cada um destes grupos irá fazer uma romaria de oito dias”, explicou João Carlos Leite, acrescentando que este ano estarão envolvidos nas tradicionais romarias da quaresma mais de dois mil homens.
João Carlos Leite assinalou ainda a incorporação de jovens nas romarias, o que permite “dar continuidade a esta grande manifestação de fé”.
“Continuamos a ser abençoados por esta grande manifestação de fé. Existe na ilha de São Miguel uma grande envolvência não só por parte de quem participa nas romarias, mas também das comunidades que acolhem os romeiros”, sublinhou o presidente do grupo coordenador do Movimento.
A média de elementos de cada grupo ronda os 50 homens. Durante o período em que estão na estrada, os romeiros dormem em casas particulares ou em salões paroquiais, devendo iniciar a caminhada antes do amanhecer e entrar nas localidades logo a seguir ao pôr-do-sol.
O coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel referiu que não ocorreram, no ano passado, dificuldades de acolhimento de romeiros, até porque “os grupos eram mais pequenos” devido à questão da pandemia.
Nos concelhos menos populosos, particularmente no Nordeste e na Povoação, há um “grande envolvimento” da comunidade para o acolhimento dos romeiros, pelo que há necessidade de recorrer a salões paroquiais e casas de povo, lembrou à Lusa.
“São localidades que não têm muita população e acolhem mais de 40 ranchos de romeiros” durante as romarias, assinalou ainda, destacando que a população se organiza em grupos para preparar as refeições dos romeiros.
Em algumas localidades, segundo João Carlos Leite, são colocados nos espaços comerciais “recipientes para a doação de alimentos para confecionar as refeições dos ranchos”.
Entretanto, o rancho de romeiros dos Fenais da Ajuda, de São Miguel, desloca-se ao Pico para realizar a primeira romaria na ilha Montanha, inspirada nas romarias quaresmais da maior ilha açoriana, informa uma nota enviada ao Sítio Igreja Açores pela paróquia.
A deslocação ao Santuário do Bom Jesus Milagroso começa em 29 de fevereiro e o grupo regressará a São Miguel em 03 de março.
Estas romarias quaresmais, segundo a tradição, tiveram origem na sequência de terramotos e erupções vulcânicas registados no século XVI na ilha, que arrasaram Vila Franca do Campo e causaram grande destruição na Ribeira Grande.