Uma das empresas excluídas do concurso para a instalação de um porto espacial em Santa Maria, nos Açores, em 2021, já encontrou uma solução alternativa, mas continua interessada no projeto, revelou hoje.

“Os Açores estavam em primeiro lugar, mas ainda não o conseguimos. Temos esperanças de que o consigamos brevemente. Continuamos interessados e vamos aguardar que apareçam novidades. No mês passado, saiu a legislação”, adiantou, em declarações aos jornalistas, Carlos Valadão, da (RFA) nos Açores.

O responsável da empresa falava à margem de uma apresentação no Parque de Ciência e Tecnologia da Ilha Terceira (Terinov), em Angra do Heroísmo, onde a RFA Azores está instalada.

Criada em 2018, a RFA, integrada na empresa alemã OHB, expandiu-se em 2019 para Portugal, tendo presença nos Açores e em Matosinhos.

A empresa integrava um dos dois consórcios que chegaram à fase final do procedimento para a instalação de um porto espacial em Santa Maria, para lançamento de pequenos satélites, ambos excluídos em abril de 2021.

Inicialmente estava previsto que o contrato para a instalação e funcionamento do Porto Espacial de Santa Maria fosse assinado em junho de 2019, para que os primeiros lançamentos de pequenos satélites ocorressem no verão de 2021.

O atual executivo açoriano chegou a publicar em Jornal Oficial um segundo concurso em abril de 2022, mas voltou atrás na decisão, alegando que a lei obrigava à realização de estudos de impacto ambiental e económico-financeiro.

Em dezembro de 2022, o subsecretário regional da Presidência assegurou que o projeto para a construção do porto espacial avançaria em 2023, mas o novo concurso não chegou a ser lançado.

A RFA espera lançar o seu primeiro foguetão, para transporte de satélites, em agosto deste ano, a partir do porto espacial de SaxaVord, no arquipélago de Shetland, na Escócia.

Em 2024, prevê lançar dois foguetões, mas a meta, numa fase mais avançada, é fazer um lançamento por semana.

A empresa conta com uma equipa de 15 pessoas em Matosinhos, onde está a construir o terceiro estágio dos foguetões, com recurso a fundos do Compete 2020, em parceria com o Centro de Engenharia e Desenvolvimento (Ceiia).

“Temos alguns materiais portugueses. Posso realçar o revestimento da cortiça”, salientou Carlos Valadão.

Apesar de ter encontrado uma solução alternativa para o lançamento, Carlos Valadão continua a acreditar que a criação de um porto espacial “é muito válido para os Açores, em particular para Santa Maria”.

“Nós continuamos interessados, mas o tempo desgasta”, alertou.

Sem revelar montantes envolvidos, o gestor da RFA Azores destacou o impacto logístico que teria o lançamento de pequenos foguetões na ilha.

“Se quiséssemos ter uma cadência de lançamento de um foguetão por semana, pode imaginar a logística que isto obriga: transporte desses equipamentos, montagem, pessoas, tecnologia, todas as infraestruturas necessárias”, salientou.

Ainda que comecem a surgir outros portos espaciais na Europa, Carlos Valadão defendeu que Santa Maria continua a ser atrativa.

“Santa Maria já tem um ‘cluster’ ligado ao espaço, com vigilância, já tem muitas empresas ligadas a esse setor. Também tem uma densidade populacional que nos permite ter um espaço, porque para o lançamento dos foguetões obriga-nos a ter uma área de segurança de dois quilómetros e meio”, justificou.

Na pequena ilha de Unst, em Shetland, onde está instalado o porto espacial SaxaVord, vivem 600 habitantes e só a RFA contratou 60 funcionários, a maioria de fora da ilha.

Segundo Carlos Valadão, as autoridades locais deram “condições” para a instalação da empresa e a Agência Espacial do Reino Unido atribuiu um apoio de 3,5 milhões de libras.

 

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