Vem-me à ideia uma conhecida canção de Pedro Abrunhosa. Com mais de uma década, a música e a letra continuam válidas, diria, intemporais. “Fazer o que ainda não foi feito” é um desafio constante, é o objetivo de quem quer deixar obra feita, uma espécie de angústia que se apodera de quem quer fazer muito e o tempo começa a faltar.
A canção de Abrunhosa vem-me à ideia nestes dias de campanha eleitoral, a propósito do que vai sendo dito e do que propositadamente fica por dizer. Sabemos, há muitos estados de espírito e espíritos em estado calamitoso. Depende ao que vai cada um e do que depende cada um. Sem profissão, nestas ocasiões, agudiza-se a incerteza ao político profissional, já de si hesitante nas aspirações e egos que alimenta.
Por entre tanta aflição, não espantam as ambições que se vão tornando invertebradas, as declarações que contradizem tudo o que foi dito e assumido, num irrepreensível cinismo processual.
Em cada semana que passa deparamo-nos com sentenças do dr. Cordeiro que seriam impensáveis no mês anterior e logo são saudosas nos dias seguintes, tal o dislate das que vêm depois. Não há muito, votou contra o abaixamento dos impostos e diabolizou os seus efeitos na receita fiscal, desqualificou a “Tarifa Açores” e reprovou a proposta do Orçamento que aumentava o complemento de pensão, o chamado “cheque pequenino”. Mas agora tomado pelos propósitos eleitorais, diz que tudo isto é para continuar. E nada de novo acrescenta ao que fez Bolieiro em pouco menos de três anos.
A cópia quer sobrepor-se ao original – eis o sonho do fraco aluno.