Angra do Heroísmo

Um grupo de cidadãos açorianos lançou um manifesto a pedir uma reflexão responsável sobre a realidade da região e o recentramento da autonomia no desenvolvimento humano, quando falta menos de um mês para as eleições regionais.

“Nós, açorianos e amigos dos Açores, cidadãos livres e preocupados com a coisa pública e o bem comum, vimos exigir o recentramento da autonomia da região na emancipação da pessoa, no desenvolvimento humano e numa ideia de futuro”, lê-se no manifesto, transformado em petição pública.

Entre os autores do manifesto estão os escritores Joel Neto, João de Melo e Álamo Oliveira, o antigo secretário regional da Educação Avelino Meneses, os antigos deputados Carlos Enes e Renata Correia Botelho, os professores universitários José Henrique Ornelas e Diniz Borges, o médico Germano de Sousa e a presidente da Cáritas Diocesana dos Açores, Anabela Borba.

“O silêncio é cúmplice. A cidadania nunca é cúmplice. Nem dos poderes, nem das conveniências individuais, nem do ‘statu quo’ – e muito menos quando este é injusto”, justificam.

Na página da Internet Petição Pública, o documento já foi assinado por mais de uma centena de pessoas.

Os subscritores defendem que a região não deve dar início a uma nova legislatura sem “iniciar uma reflexão responsável sobre a realidade em que vivem demasiados açorianos”.

“É urgente que os Açores tomem consciência dos seus penosos índices de desenvolvimento humano, aceitando que os números que os compõem contam uma só história: a de uma região que, mesmo num país ultrapassado por cada vez mais novos membros de uma Europa unida, consegue, ainda assim, destacar-se pela negativa”, apelam.

Lembram que a região lidera em índices como o risco de pobreza e desigualdade social, o analfabetismo e o abandono escolar precoce, a obesidade infantil, o alcoolismo e o consumo de drogas sintéticas, o suicídio, a violência doméstica, o abuso sexual ou a gravidez na adolescência, entre outros.

“Vimos, pois, propor um amplo debate – social, político e cultural – sobre o tema e lamentar a condescendência generalizada das elites regionais e nacionais para com os Açores e os açorianos”, frisam.

No manifesto é pedido que a região reconheça que não foi capaz de promover “o combate sistemático à pobreza e à desigualdade” em 48 anos de autonomia e que se “pare de diabolizar as vítimas, condenando-as ao estatuto de ‘white trash’”.

Os signatários querem que as instituições de solidariedade social da região “sejam agentes de transformação” e que as instituições da sociedade civil “resistam ao partidarismo”.

“É urgente que os Açores ponham termo ao nepotismo, ao clientelismo e ao laxismo que vêm corroendo as conquistas da autonomia, apostando na qualificação da classe política, na capacidade desta para atrair os melhores e no respetivo compromisso de resistir à instrumentalização dos mais vulneráveis – e da própria máquina do Estado – com fins eleitorais”, acrescentam.

Defendem ainda uma “economia planeada em torno de prioridades estratégicas, não definida em função dos expedientes financeiros estabelecidos em Lisboa e em Bruxelas” e o combate à monocultura do turismo, que leva ao “açambarcamento do mercado habitacional por fundos de investimento geradores de inflação e gentrificação”.

“É urgente que os Açores formulem novas políticas nas áreas do ensino e da cultura, com que possam divulgar a leitura, as artes (cénicas, musicais, plásticas, televisivas e outras) e o pensamento abstrato, levando os artistas e os criadores às escolas da região, de modo a fomentar uma cultura de participação e consumo cultural desde tenra idade”, sublinham.

Reivindicam também que os Açores “zelem pela liberdade de expressão e pela massa crítica da sua sociedade, promovendo uma comunicação social livre, viável, independente” e que saibam “fazer-se respeitar pelo país e pelo mundo, defendendo e potenciando os recursos garantidos pela Constituição”.

Os Açores vão a votos em 04 de fevereiro, após a dissolução da Assembleia Legislativa pelo Presidente da República, devido ao chumbo do Orçamento para este ano.

Apresentaram listas às eleições regionais 11 forças políticas, incluindo três coligações.

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