Marcelo Rebelo de Sousa é, por estes dias, o ator principal do lamaçal em que se tornou o regime. Ainda há menos de um mês escrevia, neste espaço, um texto de opinião intitulado “em falência moral”. Aí fazia referência ao que se estava a passar ao mais alto nível do Estado.

Nessa altura a fasquia estava ao nível do Governo. Pois bem, agora já está ao nível do mais alto magistrado da nação. Para quem, como eu, assistiu a uma penosa conferência de imprensa do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, só resta uma pergunta: falta ainda muito para isto rebentar de podre? Marcelo, pálido e meio engasgado, a falar de um e-mail enviado pelo filho e de tudo o que lhe sucedeu, é uma imagem que podia ilustrar uma lápide a dizer “aqui jaz a Terceira República Portuguesa”.

Bem sei que quando se está num buraco é sempre possível cavar mais fundo, mas quero acreditar que nenhum democrata quer isso para o seu País. Para mau, já basta assim! É hora de inverter este rumo de total decadência. Como? Não tenho uma solução mágica, mas sei que com este tipo de atores e figurantes nos mais altos cargos não sairemos do buraco. Portugal está, há décadas, moralmente a saque.

Os valores e os princípios que corporizam a ética republicana deviam impedir aquilo que todos temos vindo a assistir. Perdeu-se a noção do Estado. Perdeu-se a noção da “res publica”.

A bússola que devia nortear os governantes parece funcionar ao contrário. O rumo traçado não tem qualquer respaldo nos mais elementares princípios de gestão da “coisa pública”. Há muito tempo que o regime funciona na base do “salve-se quem puder”. Entra governante e sai governante e não se vislumbra qualquer melhoria.

Antes pelo contrário! Infelizmente, quando nos aproximamos das bodas de ouro de Abril, temos um regime cujos protagonistas tudo fazem para apagar aquela luzinha ao fundo do túnel que resta de Abril. O caso das gémeas não é só mais um caso.

O caso das gémeas, principalmente o que ainda está por esclarecer, é elucidativo da decomposição do regime. A soberania de um estado não pode assentar em instituições, quanto mais órgãos de soberania, em ruínas.

Não foi para isto que nasceu, após um longo sofrimento de décadas, a Terceira República! E o que dizer do cheiro que exala deste lamaçal? Até quando aguentaremos, estoicamente, todo este desmoronar de um País com séculos de história?

Temo pelo inevitável despertar de um Povo adormecido. Mas esse dia terá de chegar…

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