Há séries televisivas que deixam marca. Aquela que ajuda o título deste artigo é uma delas, caraterizada pela capacidade para fazer pensar, explorando acontecimentos perturbadores. Mas, ao passo que esta série era apenas ficção, parece que a Região e o País aterraram numa realidade parecida.

O governo regional desmente, todos os dias, os pressupostos que afirmou na sua constituição: que traria o diálogo, que iria resolver todos os problemas, que íamos sair da pobreza, que a economia ia ser dinamizada. Em vez disso, ameaça, chantageia e faz-se de vítima, agrava a vida dos Açorianos enquanto recorre a todos os meios para se manter no poder. Ao mesmo tempo vai servindo, de forma cada vez mais intensa, o grande poder económico regional. Esse sim, dirige, na realidade, os destinos da Região. Curiosamente, o governo regional já percebeu que este ciclo político acabou, mas parece não ter percebido porquê. No fundo, a promessa de mudança, de um projeto diferente para os Açores, revelou-se vazia. Hoje, está demonstrado, que os projetos políticos da coligação e dos governos do PS são, no essencial, iguais.

A coligação diz hoje uma coisa e amanhã o seu contrário. Diz que a economia cresce, fingindo não ver que há mais Açorianos a passar fome, a perder a casa, a não conseguir pagar as suas contas. Acha normal a sua longa lista de trapalhadas políticas. Diz ser obrigatório privatizar a SATA por causa da sua dívida, mas que teremos de ser nós a pagá-la. Afinal, em que ficamos?

Quanto à extrema-direita, escolheu este momento para se descolar de uma política com a qual está profundamente comprometida. Chega ao desplante de querer marcar a data das eleições, para o dia que mais lhe dá jeito, e ainda antes de o orçamento ter sido reprovado. Fazendo-o de fora da região, pela voz do seu líder supremo, desprezando a autonomia regional e revelando considerar os Açores como um mero peão, usado friamente no seu macabro jogo de xadrez. É caso para dizer que Maquiavel não escreveria melhor.

E no plano nacional, estará melhor? Nem por isso. Vou dar só um exemplo. Com o governo demitido, não poderia haver votação do orçamento do estado. Vai daí, contorna-se a lei e adia-se a demissão. De repente, a direita mudou o seu discurso: o orçamento que diz ser mau deve, afinal, ser aprovado. Que não haja enganos: esta mudança não se deve à bondade ou ao receio dos duodécimos. Deve-se a concordarem com o orçamento, sem o poderem dizer. Assim, não correm o risco de ter de apresentar um orçamento semelhante, deixando, para já, as culpas com o PS.

Voltando ao princípio, o título que escolhi para o artigo pode causar discordâncias, por muitas razões. Serão todas válidas – até porque cada cabeça sua sentença e a Democracia faz-se, sem dúvida, da pluralidade e das discordâncias. Mas num facto deverá haver unanimidade: enquanto os episódios desta brilhante série tinham cerca de 25 minutos, nós permaneceremos presos nesta triste surrealidade.

Saindo da comparação, é certo que, neste momento, é difícil ver um final feliz. Assim será, pelo menos, até ao dia em que a esmagadora maioria, aquela que perde algo todos os dias, assuma que é a altura de mudar as regras do jogo. A verdade é que são cada vez mais aqueles que se apercebem que este é um jogo viciado à partida. Que as regras deste jogo foram construídas para o perpetuar, intocável nas desigualdades sociais e no estrangulamento económico, na estagnação social e no comprometimento do futuro e do desenvolvimento imediato. Mas há alternativas e virá o dia em que a maioria já não aceitará as regras que ditam, sempre, a vitória do mais forte.

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