A coordenadora do BE considerou hoje que a crise política resulta de um “regime de promiscuidade, facilitismo e privilégio”, e acusou a “má política da maioria absoluta” de ser a principal razão para a “profunda crise social”.
“Esta crise política é fruto de um regime de promiscuidade, facilitismo e privilégio que atravessa a economia portuguesa ao longo das últimas décadas, que manipula e condiciona os investimentos nacionais e que usa ilegitimamente o carimbo de interesse nacional para se autolegitimar”, afirmou Mariana Mortágua.
A líder do Bloco falava hoje em Ponta Delgada, nos Açores, no encerramento da VIII Convenção Regional BE/Açores.
Mortágua criticou a “economia de favores e de portas giratórias que descredibiliza o Estado” e “atrasa o país”, lembrando os “projetos imobiliários megalómanos, de Vale do Lobo à Comporta”, os “negócios com a Portugal Telecom” e as “renováveis pagas a preço de ouro”.
“Tudo feito em nome do interesse nacional para privilégio de um punhado de empresas e grupos económicos, à volta do qual pululam os facilitadores do costume: os que fazem a ponte com a política e com a banca, os que protegem os contratos, redigem leis e garantem o sigilo”, criticou.
A propósito da investigação que motivou a demissão do primeiro-ministro, a coordenadora do Bloco reiterou que as suspeitas “carecem de esclarecimentos por parte do Ministério Público”.
“Rejeitamos que a política e os negócios sejam duas faces da mesma moeda. Esse é o regime de sempre do centrão, que confunde política e negócios”, disse.
No seu entender, a principal razão para a “profunda crise social” que o país atravessa é a “má política da maioria absoluta”, que resulta em “milhares de alunos sem professores”, “hospitais em rutura” e na “catástrofe na habitação”.
“A crise da maioria absoluta do PS é a falta de soluções para o país. São os jovens que sabem que com o seu salário nunca conseguirão ter uma casa na cidade em que trabalham”, prosseguiu.
E acrescentou: “A crise da maioria absoluta é um povo que olha para si e não vê futuro.”
Referindo-se aos Açores, Mortágua criticou a “negociata” em torno da EDA (a elétrica açoriana) e do grupo Bensaúde para compra de fuelóleo, e a empresa do subsecretário da Presidência do Governo Regional (PSD/CDS-PP/PPM), que “passou a viver de contratos com o Governo que somam meio milhão de euros”.
“Nos Açores, como no país, o que une a direita não é o combate à corrupção. O que une a direita é a sede de dar as cartas do mesmo jogo viciado enquanto ataca os mais pobres”, atirou.
Portugal vai ter eleições legislativas antecipadas em 10 de março de 2024, marcadas pelo Presidente da República, na sequência da demissão do primeiro-ministro, na terça-feira.
António Costa é alvo de uma investigação do Ministério Público no Supremo Tribunal de Justiça, após suspeitos num processo relacionado com negócios sobre o lítio em Boticas e Montalegre, o hidrogénio verde e um centro de dados em Sines terem invocado o seu nome como tendo intervindo para desbloquear procedimentos.