Santos Narciso, diretor-adjunto do Correio dos Açores

Os distribuidores de jornais em São Miguel, nos Açores, mantêm “muito viva” a tradição do Pão por Deus e hoje, além do matutino, entregam quadras aos assinantes, em troco de um contributo em dinheiro, um reconhecimento da profissão.

“O Pão por Deus dos distribuidores mantém-se muito vivo nos jornais micaelenses. Por esta altura do ano houve sempre esta tradição. Os assinantes entregam uma pequena compensação aos distribuidores em troca de quadras em papel”, explica o diretor-adjunto do Correio dos Açores, Santos Narciso, em declarações à agência Lusa.

“Há mais de 20 anos que faço os versos para os distribuidores entregarem de porta em porta aos nossos assinantes”, acrescenta o jornalista, que, aos 50 aos de profissão, continua a receber os telefonemas com o mesmo pedido.

O assinante retribui com “um envelope onde faz uma oferta de Pão por Deus ao jornal”.

O diretor-adjunto do Correio dos Açores – jornal diário fundado em 01 de maio de 1920, em Ponta Delgada – admite que a tradição católica do Pão por Deus se foi “esbatendo no tempo”, sobretudo com “a vinda do Halloween”, com os mais novos a pedirem guloseimas de porta em porta na noite do dia 31 de outubro.

No entanto, e apesar das tiragens dos jornais, em papel, “já não serem as mesmas”, devido à concorrência da internet, as quadras do Pão por Deus “são um clássico” da época.

“E lembro-me inclusive de poetas como Lopes de Araújo, San-Bento e ainda outros como Manuel Inácio de Melo que escreviam as quadras para os distribuidores de jornais”, acrescenta Santos Narciso, revelando que há assinantes com “uma coleção destas quadras”, que “guardam religiosamente” ao longo dos anos.

Os textos abordam geralmente temas da atualidade e este ano “não fugiu à regra”: os versos de 2023 têm como foco os conflitos mundiais e as consequências que daí advêm, sobretudo o sofrimento para as populações.

Santos Narciso salienta que a oferta dos assinantes representa também “um carinho especial” para os distribuidores, que desempenham “uma atividade que nem sempre é valorizada”.

“Ganham muito pouco na distribuição dos jornais e este contributo ajuda muito”, sublinhou.

 

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