Ontem cumpriram-se dois anos desde o primeiro artigo que escrevi para este espaço. Dois anos é uma boa altura para um balanço – e começo por olhar para os critérios editoriais do jornal: é promovido o debate saudável sobre a vida regional, com o direito à opinião, livre, plural e democrática, mantendo o respeito por todas as posições. Isso não é pouco, sobretudo nos tempos que correm, em que a pluralidade de opiniões, a seriedade e o rigor jornalístico vão dando lugar ao pensamento que se pretende passar por único…

Neste balanço, nada como olhar para o primeiro artigo. Falava, então, da incapacidade do governo regional. Eram já visíveis as muitas falhas na saúde dos Açorianos, na economia e no combate à pobreza, em particular à pobreza entre quem trabalha, o maior problema regional. Afirmei também que já era evidente ser pura propaganda a “afirmação de que a partir de agora tudo passaria pela Assembleia Regional…” Esta ideia, mil vezes repetida, revelou-se mil vezes falsa. Para o Parlamento Regional, a coligação de direita e de extrema direita reservou a falta de seriedade no debate. Não se dignifica a Democracia e a Assembleia Regional disfarçando a ausência de propostas e de soluções, procurando ocupar o espaço mediático com a demagogia e a vitimização. Não se dignifica a Assembleia Regional com acordos de corredor, feitos às escondidas, para procurar pacificar uma coligação só se mantém pela sede de poder.

Na vida diária dos Açorianos, pouco ou nada se alterou para melhor – muito pelo contrário. Ao mesmo tempo, mantêm-se os privilégios às grandes empresas privadas, assegurando-lhes a maior parte dos subsídios públicos. Nada lhes é pedido em troca: nem o contributo para dinamizar a economia, nem a melhoria dos salários, nem melhores horários de trabalho, nem a estabilidade no emprego. Ou seja, é o pior da dispendiosa subsidiodependência dos maiores grupos privados regionais, sem qualquer retorno positivo na vida diária da maioria. Chocante é ver esses privilégios exclusivos dos muito grandes ao mesmo tempo que aumentam as faltas nas mesas e nas casas das famílias Açorianas!
O orçamento regional para 2024 prevê a redução de verbas na saúde. Ao mesmo tempo, favorece-se, com dinheiros públicos, o negócio privado da doença. A venda do hospital privado da Lagoa à CUF, sem que tenha sido exigida a devolução dos muitos milhões de apoios públicos regionais, foi o exemplo mais escandaloso desse favorecimento. É esse o dinheiro que falta aos centros de saúde e aos hospitais públicos, que falta à saúde dos Açorianos, adiando consultas e tratamentos inadiáveis. É assim que se vai forçando os Açorianos a pagar do seu bolso o direito à Saúde! Não é este o caminho para resolver a falta de meios do Serviço Público Regional de Saúde…

Todos estes elementos já estavam presentes há dois anos. Por tudo isto e muito mais, “Fica assim demonstrado que este governo e esta maioria se constituiu em torno da sede de poder e se suporta em função da satisfação de interesses pessoais.” Os resultados estão à vista, mas a insatisfação crescente dos Açorianos também!

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