A AR&PA – Bienal Ibérica de Património Cultural reúne, de quinta-feira a domingo, mais de 200 participantes, em Angra do Heroísmo, nos Açores, para partilhar práticas e sensibilizar a população para a importância do património.

“Teremos connosco mais de 50 entidades públicas e empresas privadas de Portugal, Espanha, Itália, França e alguns projetos europeus, que vêm mostrar o que estão a fazer nesta área, desde a conservação e restauro, à mediação, à realidade virtual, à gestão de bilhética, tudo aquilo que está por detrás do momento em que entramos num monumento ou num museu”, adiantou à Lusa Catarina Valença Gonçalves, fundadora da Spira, que organiza o evento.

No ano em que assinala a 10.ª edição em Portugal, a AR&PA desloca-se pela primeira vez aos Açores, para marcar o 40.º aniversário da integração de Angra do Heroísmo na lista de Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), o primeiro centro histórico português a obter essa distinção.

“A cidade de Angra do Heroísmo é fantástica. É uma evidência a beleza da cidade, a diversidade, o interesse e a harmonia. É um sítio muito aprazível e mais do que adequado para receber uma bienal desta natureza”, salientou Catarina Valença Gonçalves.

O tema desta edição, pós-pandemia de covid-19, é “Tecnologia e Património”, precisamente para discutir de que forma pode a tecnologia “aproximar as pessoas” do património ou “retirar uma dimensão humana aos contactos”.

Para além dos debates sobre o que se faz na área, o evento integra “um conjunto de atividades dirigidas ao cidadão comum”, para “aproximar as pessoas do património cultural”.

“Os cidadãos têm de perceber que são proprietários, no melhor sentido da palavra e no sentido cultural, deste bem, e que pelo facto de estar muito bem distribuído por todo o país e de ser inamovível, é um ativo a considerar em qualquer estratégia de desenvolvimento económico e social”, explicou a fundadora da Spira.

Segundo Catarina Valença Gonçalves, o turismo impulsionou um “interesse renovado” pelo património, que importa aproveitar, para que a população o encare como fonte de desenvolvimento económico e social, independentemente do local em que se encontre.

“Quanto chegarmos a esse ponto de uma efetiva relação entre o cidadão comum e o património cultural, a questão da preservação do património cultural estará em grande parte resolvida, porque o maior problema da preservação do património cultural é a sua falta de uso”, vincou.

Por Angra do Heroísmo vão passar cerca de 200 pessoas do meio, que, para além dos debates, terão oportunidade de participar em atividades que dão conhecer o património local, como ‘escape rooms’, ‘murder mystery’ ou visitas noturnas a locais que, por norma, estão encerrados.

“Espero que possamos contribuir com um evidenciar de outros equipamentos que não são tidos em consideração na lógica do que ver turisticamente falando e que passem a integrar essa oferta turística”, afirmou a fundadora da Spira.

Para o presidente do município de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses, a inscrição da cidade na lista do Património Mundial da UNESCO teve um grande impacto no seu desenvolvimento e na notabilidade que conquistou a nível nacional e internacional.

“Não fora essa inclusão, provavelmente o processo de reconstrução [do sismo de 1980] teria levado um caminho bem distinto daquele que levou. Teriam surgido novos edifícios e se calhar novos traçados urbanos e a Angra de hoje não se pareceria em nada com a Angra histórica”, apontou.

O autarca admitiu que há ainda “um caminho a percorrer” na recuperação do património público, mas ressalvou que a população encara a distinção da UNESCO com “orgulho”.

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