Gualter Furtado

Costumo dizer que a nossa vida na terra passa mais rápido que o voo de uma Narceja, a ave cinegética que voa mais rápido, mas arriscaria a dizer que esta nossa curta passagem na Terra é ainda mais rápida do que o voo de um Falcão-peregrino que chega a atingir os 320 Km, tal é efémera a nossa existência. Sendo assim, é de todo conveniente que aproveitemos a nossa vida, pelo menos uma parte significativa dela, a fazer coisas úteis, e a contribuir para que a nossa vida e a dos nossos concidadãos seja um pouco melhor.

Naturalmente, que não faremos tudo bem feito, até podemos cometer alguns erros, mas se estivermos sempre disponíveis convictamente para os corrigir, não devemos temer fazer coisas, produzir, criar valor acrescentado líquido positivo e ser justo na sua repartição, se assim procedermos, valeu e vale a pena viver esta nossa curta passagem por este planeta, por este país, por esta ilha, por este arquipélago e até pela emigração.

Ninguém escolhe a família, nem o local em que nasce, mas já é possível escolher ou no mínimo baralhar o futuro que nos estava predestinado, basta serem preenchidas algumas condições do ambiente que nos rodeia, viver em liberdade, saber aproveitar a solidariedade, a amizade, ter muita força de vontade, muitas vezes ter de partir e nunca esquecer a educação.

Durante muito tempo o fim da idade ativa era marcado pela passagem à Reforma, a própria sociedade impunha e ainda hoje impõe uma data-limite para a passagem à Reforma, e a partir desta data, a vida de um homem, ou, mulher nesta condição seria apenas a de gozar os rendimentos, mas não esquecendo que na maioria dos casos estes rendimentos são tão parcos, que os reformados passam os dias a fazer contas para que a reforma estique até ao fim do mês. Ora os que têm a felicidade, a saúde, a disponibilidade e não se enquadram totalmente na categoria de reformados imediatamente atrás referida, devem com o seu estatuto de seniores envolverem-se em atividades de reflexão sobre a sociedade em que estão inseridas, até à escala mundial, dar o seu contributo ativo fundado na educação e num saber de experiência, que pode ser muito útil à nossa sociedade, mesmo sabendo que uns quantos ditos ativos não queiram, por julgarem saber tudo, ou, até mesmo por medo de uma falsa concorrência. Ignorando como é passageiro este estatuto de ativo, pois pensam que nunca chegam a Seniores, para estes casos costumo reservar-lhes uma elevada dose de paciência, mas sem cedências, nem contemplações, porque não devemos pactuar com os que pensam que os Seniores perderam o seu direito e dever de Cidadania.

Por isto aqui estou na luta e aqui estarei enquanto tiver saúde e faculdades mentais ativas, e porque estas não se extinguem no dia da Reforma.

Infelizmente, a sociedade a que pertencemos continua com bolsas de pobreza, níveis de educação que tem muita margem para melhorar, um abandono escolar precoce muito elevado, um enorme nível de consumos de drogas e outras dependências, um considerável nível de jovens que não estudam nem trabalham, uma economia muito dependente e pouco sustentável, um longo percurso ainda a percorrer na igualdade de género e no combate à violência doméstica, uma crise Demográfica, enquanto estas situações prevaleceram os chamados ativos e os seniores, somos todos ainda poucos para darmos a volta a esta sociedade. Sendo assim, vão ter de continuar a contar com o nosso trabalho, reflexão e voz.

O meu reiterado agradecimento à Associação Seniores de São Miguel por esta Homenagem no Dia Internacional do Idoso/Senior.

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