I – Mercado da Graça

O processo de requalificação do Mercado da Graça arrasta-se há demasiado tempo. E pior, não tem data prevista para a respetiva abertura ao público. Confesso que já pouco me importa saber de quem é a responsabilidade. Se do Presidente A, se do B, se do C. Sé é dos arquitetos ou dos engenheiros. Ou se é até de um estranho alinhamento dos astros. A verdade é que este processo tem sido em desastre. É preciso ter presente que desde outubro de 2020 que o nosso emblemático Mercado funciona, com exceção de uma ou outra área de negócio, no parque de estacionamento. Os comerciantes que ali procuram obter o rendimento para as suas famílias não querem ajudas ou medidas compensatórias. O que pretendem mesmo é, literalmente, voltar à superfície. O Mercado da Graça, tal como todos os mercados por esse mundo fora, são espaços de luz, de cor, de cheiro, de vida. Os últimos 3 anos, os quais foram passados na escuridão de um parque de estacionamento, significam uma espécie de amputação de uma parte importante da nossa cidade. O Mercado da Graça é um espaço emblemático de Ponta Delgada. O Mercado da Graça é uma marca da cidade. Espero, sinceramente, que no atual mandato voltemos a ter o nosso Mercado a funcionar com a dignidade que se exige.

II – Taxas de juro

A constante subida das taxas de juro é outro dossiê que podia e devia ser diferente. A política dos números tarda em dar lugar à política das pessoas. Pessoas que é coisa que o BCE, garantidamente, não coloca nas folhas de Excel que, de forma regular, fazem com que as taxas de juro atinjam novos máximos a cada atualização. Taxas estas que têm implicação direta na vida das pessoas e nas contas da banca. Enquanto os ordenados dos trabalhadores começam a não chegar para suportar os créditos à habitação, vemos notícias sobre lucros recorde da banca. Resultados que decorrem, diretamente, da subida das taxas de juro. Os governantes, após estranha inação inicial, começam a tomar medidas. Ainda ontem o Governo de António Costa anunciou algumas medidas para mitigar o sufoco vivido por milhares de famílias no que diz respeito ao crédito à habitação. Os apoios, moratórias, etc, são bem-vindos. Mas é preciso mais. É preciso que o BCE não seja conduzido por computadores ou por ferramentas baseadas na inteligência artificial. As pessoas, de carne e osso, têm de voltar ao centro das políticas. É utópico? Talvez seja. Mas é preciso ter presente, como nos ensinou Oscar Wilde, que “o progresso não é senão a realização das utopias.”

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