Mafalda Oliveira, é a representante do Círculo Eleitoral da Região Autónoma dos Açores da Lista A, candidata à Ordem dos Nutricionistas

Em entrevista ao Jornal Açores 9, Mafalda Oliveira faz um diagnóstico preocupante à qualidade da alimentação no arquipélago, mas nem tudo é mau: temos um bom rácio de nutricionistas por habitante. Caso seja eleita, quer que a Ordem tenha um papel ativo na criação de uma política alimentar regional.

Qual o ponto da situação nos Açores, no que diz respeito à nutrição? Comemos bem ou mal? Há ilhas em melhor situação do que outras? Porquê?

Os Açores têm dos piores índices de saúde nacionais e europeus: temos uma menor esperança média de vida, mais obesidade infantil e do adulto, mais diabetes, maior carência de iodo.

Cada vez se come pior um pouco por todo o Mundo. Nos Açores isso é ainda mais evidente, com o reduzido consumo de hortofrutícolas, o consumo exagerado de alimentos processados, com maior teor de gordura saturada e de açúcar, e ainda a substituição do consumo de água por bebidas açucaradas.

A alimentação humana nos Açores tem uma dependência enorme de alimentos importados. Somos muito pouco suficientes em matéria de produção alimentar, com poucas exceções. E os alimentos processados, de maior durabilidade, são mais fáceis de transportar para as ilhas.

Temos, ainda, um baixo nível socioeconómico da população e com baixa literacia, que condiciona o acesso e as escolhas alimentares.

Mafalda Oliveira

Qual o rácio de nutricionistas por habitante? Temos de melhorar o acesso a consultas de nutrição? Como se consegue isso?

Comparativamente ao todo nacional, estamos melhor no que diz respeito a rácios. O rácio de nutricionistas nos Cuidados de Saúde Primários na Região Autónoma dos Açoresestá acima do preconizado pela Ordem dos Nutricionistas (1 para 12.000 habitantes), sendo que, pelas particularidades geográficas dos Açores, temos ilhas/concelhos com 1 Nutricionista para 4000 habitantes (total Flores e Corvo) sendo que apenas Terceira e São Miguel ainda estão com um rácio a melhorar: 1 para 18000 e 1 para 19000, respetivamente.Somente nestas ilhas (em São Miguel, apenas em Ponta Delgada) podemos ter dificuldade no acesso a Consultas de Nutrição no sistema regional de saúde (maior tempo de espera), sendo que o setor privado tem resposta superior a outros concelhos.

Melhorando os rácios, nestas duas Unidades de Saúde de Ilha e/ou criando protocolos com o setor privado, penso que podem dar resposta ainda mais adequada às necessidades de Consulta de Nutrição da população.

Nos Cuidados de Saúde Hospitalares temos, também, dotações superiores ao Continente.

Precisamos reforçar a presença de Nutricionistas noutros setores além da Saúde.

Quais as áreas em que deve haver um reforço da ação dos nutricionistas?

Nitidamente, parece-nos que a necessidade mais premente da Região se situa a nível da Saúde Pública, intervindo na definição de uma Política Alimentar Regional, até agora inexistente.

Reforço, também, no setor da Educação, não apenas no controlo da oferta alimentar, mas no aumento da Literacia em Saúde Nutricional e Alimentar, desde tenra idade.

E, ainda, reforço dos Nutricionistas a desempenhar funções no setor de solidariedade social -instituições de apoio à infância e ao idoso.

Há outras oportunidades na região, como o Turismo.

Indique as três primeiras medidas que se propõe concretizar assim que for eleita?

A primeira medida passa por levar ao Conselho Geral da Ordem dos Nutricionistas a necessidade de conhecer a realidade dos Nutricionistas a trabalhar na Região Autónoma dos Açores. É importante saber, agora e a todo o momento, o número, a área de atuação, o tipo de vínculo– pois só fazendo o diagnóstico podemos avaliar necessidades presentes e projetar necessidades futuras;

A segunda medida, levar a preocupação ao Conselho Geral da necessidade de promover, junto do Governo Regional, a regularização da situação dos nutricionistas a desempenhar funções na área da Saúde na Região Autónoma dos Açores, garantindo que, para o mesmo trabalho, existe semelhante colocação na carreira e semelhante remuneração;

Por fim, a terceira medida passa por disponibilizar mais e melhor formação geral e específica, presencial e por vias telemáticas, para que os Nutricionistas da Região Autónoma dos Açores potenciem o máximo das suas capacidades e competências, para as poder colocar ao serviço da população açoriana.

A juventude é uma das grandes apostas da Lista A. O que diria aos jovens açorianos que pretendem abraçar esta profissão?

Diria que a alimentação é um ato que praticamos várias vezes ao dia, ao longo de toda a nossa vida, pelo que Ser Nutricionista é uma profissão de presente e uma profissão de futuro.

Diria, também, que temos um trabalho na área da Alimentação e Nutrição muito desafiante pela frente.

Ediria, ainda, que a Região precisa dos jovens açorianos com formação especializada nesta área.

Indique três medidas concretas que podem beneficiar os jovens nutricionistas?

A criação de uma bolsa de empresas/instituições com idoneidade e todas as condições técnicas e científicas, para um estágio de excelência.

A criação de uma equipa de avaliadores (júris de provas) do Estágio à Ordem, que tenha formação avançada e seja o garante de uma avaliação mais objetiva e justa.

A mudança do modelo existente de acesso às Especialidades da Ordem dos Nutricionistas, para que tenha um modelo mais fluido, que permita trabalhar e evoluir profissionalmente de forma condigna.

O Governo quer os estágios pagos (950€/mês). Isto, por si, não pode ser considerado o maior entrave à entrada na profissão? Quem são as empresas com capacidade para contratar estagiários nestas condições? Vamos estar a formar nutricionistas para o desemprego, como já acontece em outras profissões?

Os estágios não podem ser uma via para as empresas terem acesso a trabalho especializado não remunerado, que tem servido para colmatar necessidades permanentes.

De qualquer dos modos penso que qualquer empresa do continente ou dos açores pode pagar o valor referido, relembro que é pouco acima do salário mínimo nacional para uma formação superior e de excelência.

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