Aquilo que se vai sabendo sobre o futuro das companhias aéreas low cost nos Açores tem feito correr muita tinta. Sobretudo tem provocado muitos receios sobre os efeitos no turismo e, principalmente, nas pequenas empresas e nos seus trabalhadores. São sempre estes os mais afetados. Mas, se muito tem sido dito, há muito mais que se tem procurado não divulgar. Curiosamente, o presente tem revelado que as informações sobre a política de transporte aéreo que são pouco ou nada noticiadas são, precisamente, as que mais interesse têm para os Açorianos.

O modelo de subsídio de mobilidade foi construído a pensar no lucro das low cost, e não no serviço público aos Açorianos. Explicando melhor, o reembolso das passagens aéreas é posterior à viagem porque isso resultou de um compromisso dos governos regional e da república para com as low cost. Esse ponto foi estratégico no acordo com as chamadas companhias aéreas low cost, e foi assumido, nestes mesmos termos, na campanha para as últimas eleições regionais, mais precisamente no debate televisivo sobre São Miguel, por parte do candidato do PS. O silêncio do PSD e a prática deste governo regional mostraram que, no fim de contas, PS e direita entendem-se nesta matéria… apesar de procurarem o ruído mediático com outros pormenores.

Assim se tentou esconder o facto de se ter negociado, nas nossas costas, um modelo que, no fim de contas, não serve as necessidades dos Açorianos, como está mais que demonstrado. É que, se há uma década, eram muitos os Açorianos com dificuldade em pagar 300€ ou mais por cada passagem, hoje serão muitos mais – mesmo com o reembolso –, que se vêm impedidos de voar. Estaremos a falar de uma família de 4 ter disponível 1000€ ou mais! Foi isto mesmo que foi denunciado, desde o início, pelo PCP. Foi devolvido um silêncio quase permanente, apenas quebrado pelo deslize no tal debate…

São desconhecidos os compromissos do anterior governo regional para com estas companhias, tal como é desconhecido aquilo que o atual governo regional terá, agora, prometido. Parece que o silêncio é de ouro… mas, neste caso, é de ouro para outros, que não nós! É também desconhecido o apoio financeiro público que é canalizado para as low cost, por voarem para os Açores, e que sai diretamente do orçamento do estado. Apenas é conhecido que, todos os anos, há uma verba que sai do orçamento do estado, ou seja, dos impostos de todos nós – e que corresponde sempre a uns largos milhões de euros – para apoiar, financeiramente, as low cost. Tirando o PCP, poucos partidos têm defendido que esse apoio deve ser canalizado para as companhias nacionais públicas, ou seja, SATA e TAP, em vez de ser desviado para companhias privadas. Assim se asseguram os lucros privados com os dinheiros públicos!

São desconhecidas as razões pelas quais se ignoraram, durante anos a fio, as denúncias dos trabalhadores da SATA sobre a má gestão da companhia, em particular na sua estratégia. Das várias forças políticas, apenas o PCP e a CDU lhes foi dando, regularmente, voz, denunciando que é o interesse público que está posto em causa.

De tudo isto, podem tirar-se três conclusões muito objetivas. A primeira é que a política nacional e regional de transportes aéreos está pensada para os interesses das companhias privadas, em prejuízo do interesse público, de todos nós. A segunda é que as low cost trazem, afinal, custos elevados para as finanças públicas e para a economia regional. E a terceira e mais importante é que, em matéria de transportes aéreos, a estratégia dos governos regionais e da república deixou-nos mais vulneráveis e dependentes, à mercê da boa vontade destas companhias privadas.

Obviamente que todas as companhias aéreas que queiram voar para os Açores são bem vindas. Mas é preciso que o modelo de transporte aéreo sirva os Açorianos e o desenvolvimento económico e social da Região.

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