A escritora Natália Correia deve ser lembrada pela sua luta para “resgatar a humanidade”, pela busca por um mundo com “mais justiça social”, encetada por um legado literário que é uma “obra-prima”, considera a investigadora Ângela Almeida.

Em declarações à agência Lusa, a propósito das várias iniciativas organizadas pela Fajã de Baixo, nos Açores, para comemorar o centenário de uma das filhas mais ilustres da freguesia, a investigadora defende que Natália Correia deve ser recordada por ter procurado “libertar o mundo do seu estado”.

“Devemos lembrá-la pelo legado que nos deixou com a sua luta pelo resgate da humanidade, pela libertação do estado do mundo tal como ele está, para um mundo com muito mais justiça social, com igualdade e respeito integral pelos direitos humanos”, afirma.

Uma luta pelo “respeito integral pelo planeta” movida através uma “obra literária de grande vulto”.

“Este é o grande legado de Natália Correia. É a forma como a devemos lembrar, sendo que o fez através de uma obra literária prima. Numa obra literária de grande vulto, há sempre livros que são melhores do que os outros, mas na globalidade a obra dela é uma obra-prima, sobretudo a obra poética e ensaística”.

Natália Correia, escritora, poeta e antiga deputada, nasceu a 13 de setembro de 1923 na freguesia da Fajã de Baixo, na ilha de São Miguel, em Ponta Delgada.

A freguesia da Fajã de Baixo promoveu várias iniciativas para evocar o centenário da autora, que vão terminar com uma conferência na sexta-feira, às 20:30 locais, na sede da junta, sobre o “Significado do Culto do Espírito Santo em Natália”, com a presença de Henrique Levy, Ângela Almeida e Roberto Jesus Reis.

Ângela Almeida, doutorada em Literatura Portuguesa com uma tese sobre Natália Correia, considera que a atração da escritora pelo Espírito Santo devia-se ao “espírito de fraternidade” presente naquelas festas populares que acontecem em todo o arquipélago.

“Ela nasceu aqui [nos Açores] e viveu a sua infância com a prática do culto do Espírito Santo. O que a atraía mais nesse culto era o sentimento de fraternidade que o culto gerava e o que isso poderia trazer para a humanidade”, explica.

A circunstância de se tratar de uma celebração desenvolvida “fora dos moldes da igreja católica tradicional” também motivavam o interesse de Natália Correia, que nunca se desligou das raízes açorianas.

“Era uma pessoa que nutria um amor pela sua ilha, com que ela tinha – conforme dizia – uma ligação visceral”.

Na ilha, o culto do Espírito Santo e o conhecimento dos livros, transmitido pela mãe, começaram a gerar em Natália Correia uma necessidade de “criar uma vida mais interiorizada” por oposição ao materialismo da sociedade.

“Há uma interioridade que ela bebe aqui na ilha durante a sua infância, trazida, naturalmente, pela vivência do culto do Espírito Santo, mas sobretudo pela forma como é vivido com alegria, espírito comunitário e fraternidade”, assinala Ângela Almeida.

E concluiu: “Há toda uma atmosfera interior que a enforma e que ela leva consigo quando vai para o continente [aos 11 anos]. Uma atmosfera que ela desenvolve ao longo da sua vida e que dará mais sentido ao percurso dela. Um percurso feito exatamente da matéria para o espírito”.

 

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