É tema recorrente deste meu espaço de opinião as semelhanças entre os anteriores governos do PS e o atual. Efetivamente, por mais que tentem disfarçar, a realidade vai mostrando que as opções e os resultados das políticas são os mesmos, em tudo quanto é essencial. Desde logo na ausência do combate à pobreza, na aposta nos salários baixos, no emprego incerto e precário e em horários de trabalho desregulados, prolongados e que não contribuem para a vida pessoal e familiar. Mas há um campeonato em que este governo de direita, apoiado pela extrema direita, é campeão destacado: na propaganda política.

É verdade que a comunicação é essencial na política. Mas há a comunicação e há a propaganda que mais parece sair de um mundo imaginário. Vem isto a propósito do chamado acordo de parceria, promovido pelo governo regional e assinado há dois dias. Não faltam elogios por parte de quem assina o acordo, pelo que será interessante olhá-lo de perto.

Em primeiro lugar, parece-me ser relevante o facto de o documento assinado não estar disponível no sítio do governo regional, para consulta dos principais interessados: Cidadãos, Trabalhadores, Pequenos e Médios Empresários, Jovens, Reformados e muitos outros. Poderá ser falha minha, mas à hora em que termino este artigo não encontrei, em nenhum sítio público da internet, o supostamente excelente, mas secreto acordo. Eu consegui lê-lo, por ser membro da direção de uma instituição, mas documentos desta natureza devem ser públicos.

Em segundo lugar, acho que o nome não será rigoroso. Melhor seria ser chamado de autoelogio à governação ou de lista de boas intenções, já que em lado nenhum se indicam as medidas concretas que concretizarão essas boas intenções. Por outro lado, usa e abusa dos verbos fáceis, que parecem bonitos no discurso e no papel, mas que se tornam vazios na prática. Adequar, promover, disciplinar, manter, elaborar, densificar e outros são repetidos, sem estarem acompanhados das ideias concretas que os justificariam!

Por último, mas mais importante, parece dirigido para outra realidade que não a nossa. Não aborda a pobreza estrutural, não reflete sobre a realidade regional nem sobre as causas dos problemas, não fala sobre as desigualdades ou sobre a importância da produção regional… E quanto àquilo que o governo regional chama de medidas, ou são tão vagas que dificilmente poderão ser identificadas como tal, ou são desajustadas da realidade regional. Chega ao ponto de destacar como medida positiva a manutenção do salário mínimo regional. Mas será que o governo regional considerou acabar com esta conquista com mais de 2 décadas, resultado da luta dos Trabalhadores Açorianos e da ação do PCP no Parlamento Regional? Se há coisa que nos faz falta é o aumento dos salários. Ainda mais agora, perante a inflação que consome o poder de compra!

Muito mais haveria a dizer, mas a minha leitura resume-se a isto: um documento vazio, de pura propaganda política e sem medidas concretas. E confesso que achei estranho ter sido assinado pela UGT e pela Federação Agrícola. É que, no essencial, vai favorecer as grandes empresas regionais. Quanto aos trabalhadores, a quem vive da agricultura ou da pesca e aos pequenos empresários, não passa de mais do mesmo: pobreza, falta de apoio e mais dificuldades!

Acordos desta natureza são, sem dúvida alguma, importantes. Permitem unir setores diferentes da nossa sociedade num projeto comum, enquadrado por medidas concretas, que permitam o desenvolvimento social equilibrado e sustentado, tanto no plano económico, como no plano ambiental. Por isso mesmo, acho que são demasiado importantes para serem utilizados como propaganda e autoelogio. Sobretudo quando os Açorianos não sentem nem sentirão os resultados daquela lista de boas intenções.

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