O Governo Regional dos Açores vai apresentar, até ao final do ano, uma candidatura para integrar o milho regional no Catálogo Nacional de Variedades de Espécies Agrícolas e Hortícolas, revelou hoje o secretário da Agricultura.

“É uma espécie que passou de geração em geração e está ajustada às condições climatéricas e ao nosso tipo de solo. Tem, no nosso entendimento, propriedades nutricionais diferentes do outro milho”, afirmou, em declarações à Lusa, o titular da pasta da Agricultura nos Açores, António Ventura.

Em 2022, o executivo açoriano (PSD/CDS-PP/PPM) assinou um protocolo com a Universidade dos Açores para a colaboração num projeto de caracterização de variedades produtivas tradicionais, que envolve também a Federação Agrícola dos Açores.

O projeto prevê o estudo de espécies de feijão, nabo ou chícharo, por exemplo, mas a primeira candidatura a ser entregue na Direção Geral de Alimentação e Veterinária será a do milho.

“A Universidade dos Açores já tinha um registo substancial do milho, depois falámos com produtores, fizemos o registo fotográfico, uma identificação primária e agora a candidatura está pronta para ser entregue até ao final do ano”, explicou António Ventura.

O governante está confiante de que será possível comprovar que a espécie de milho candidatada é autóctone, porque as suas características são diferentes de outras espécies.

“Estamos em crer que podemos ter muitas possibilidades de registar esta patente”, afirmou.

O executivo açoriano identificou produtores de milho regional nas ilhas de São Miguel, Terceira e Graciosa, mas o número de produtores é “reduzido” e a produção de pequena escala.

“São pequenas quantidades e pequenas áreas. Interessa que não se perca de vista estes produtores para que se possa utilizar esta semente e criar uma política pública que dê origem à recuperação do chamado milho regional”, sublinhou o titular da pasta da Agricultura.

Ao longo dos últimos anos, o milho regional foi sendo “substituído pelo milho híbrido que é mais resistente ao vento e que produz mais”.

Segundo António Ventura, o objetivo não é substituir agora o milho híbrido, mas recuperar uma espécie em risco de desaparecer e potenciar novos usos.

“Queremos em simultâneo a existência deste milho regional para se criar uma nova oportunidade de negócio e recuperar aquilo que são variedades açorianas”, apontou.

“É uma variedade de combate às alterações climáticas, porque está ajustada, e uma variedade de ciclos de carbono reduzidos”, acrescentou.

Com a inscrição no Catálogo Nacional de Variedades de Espécies Agrícolas e Hortícolas, o executivo açoriano pretende “desenvolver uma política pública” de incentivo à produção deste milho, com apoios comunitários, no âmbito do Programa Estratégico para a Política Agrícola Comum (PEPAC) e do programa Leader, que apoia empresas no meio rural.

“Poderá dar origem à existência de novas empresas e novos negócios, à criação de emprego e à fixação de pessoas”, defendeu o secretário regional da Agricultura, alegando que o milho regional pode ser utilizado na produção de farinha, na confeção de pão e doçaria tradicional ou “até para a alimentação animal de âmbito biológico”.

Uma vez reconhecido o milho regional como espécie autóctone dos Açores, o Governo Regional vai estudar as diferenças entre a espécie de ilha para a ilha.

“Estou convencido que não temos só uma variedade de milho dos Açores, temos várias variedades consoante a ilha, porque as condições edafoclimáticas são diferentes”, explicou o governante.

 

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