Cansados, mas realizados e de “coração cheio”, voluntários de todo o mundo que participaram na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), e que termina hoje em Lisboa, acabam uma missão de muitos dias que descrevem como enriquecedora.
Enquanto esperavam a chegada do Papa Francisco, no passeio marítimo de Algés, para aquele que foi o último momento do líder da Igreja Católica em Portugal, centenas de voluntários procuravam abrigar-se do intenso calor.
Sob uma tenda gigante, pessoas de várias nacionalidades espalhavam-se pelo recinto, sentados ou deitados sobre toalhas ou colchões de campismo. Alguns, que passaram a noite na vigília, aproveitavam para dormir, outros improvisavam uma refeição – uma tosta de arroz com atum por cima.
Animados, os voluntários esperavam a chegada do Papa Francisco cantando o hino da Jornada e gritando os cânticos que mais se ouviram nos últimos dias: “Esta es la juventud del Papa”e “Viva o Papa”.
No total, mais de 25 mil voluntários de mais de 140 países participaram na JMJ, sendo Portugal, Espanha, França, Brasil e Colômbia as principais origens, segundo a organização.
Durante estes dias, houve muito trabalho, mas até deu para um pedido de casamento.
Os voluntários colombianos Sebastian Rodriguez, de 29 anos, e Paula Blanco, de 26, chegaram a Lisboa como namorados e saem como noivos.
Sebastian pediu Paula em casamento na Rua Augusta e sonham agora conseguir ser abençoados por Francisco. Mesmo que não sejam, acreditam, como católicos que são, que o seu casamento será abençoado e feliz.
Para Sebastian, esta é a segunda jornada que acompanha, para Paula foi a primeira, mas ambos têm a convicção de ir a Seul em 2027 para a próxima.
O espanhol David Guirado, 29 anos, de Cuenca, participou pela primeira vez como voluntário, depois de ter estado nas jornadas da juventude de Madrid e Cracóvia como peregrino.
“Foi muito bonito. Houve algum caos, Lisboa é uma cidade com meio milhão de habitantes, não é fácil acolher um milhão e meio de peregrinos. Apesar das dificuldades, como é algo que vem de Deus, vai ser sempre grande”, disse à Lusa.
O voluntário, que trabalhou na área de segurança, destacou a Via Sacra como um momento que recordará para sempre. “Tocou-me muito no coração”, confessou.
Com uma grande bandeira dos Açores às costas, Laura Ferreira teve uma dupla função na JMJ: cantou no coro que esteve nas cerimónias com o Papa Francisco e foi voluntária.
Já tinha estado em Cracóvia, mas como peregrina, mas em Lisboa estreou-se como voluntária.
“Enquanto peregrinos, estamos a beneficiar da mensagem transmitida pelo Papa. Enquanto voluntária, fazemos o trabalho em prol da JMJ e dos jovens peregrinos. Enquanto artista, é um serviço diferente que não deixa de ser voluntariado porque não recebemos para o fazer”, resumiu.
Laura Ferreira explicou que muitos dos artistas não residem em Lisboa e tiveram de pagar para vir aos ensaios. “E ensaiámos durante um ano. Foi caro, mas compensou”, frisou.
“Cansada, mas realizada e feliz”, assim se descreveu a angolana Dilma Almeida, 36 anos, que repetiu em Lisboa a experiência de voluntária que já tinha tido no Rio de Janeiro.
Apesar de “algumas falhas de comunicação, a organização está de parabéns”, considerou. Para a memória, ficou a Via Sacra, um momento “muito emocionante”, disse.
Piedade Guimarães e Francisco Teixeira, portugueses, colaboraram com as casas ‘caring’, de voluntários, na escola básica da Pontinha, uma experiência “muito enriquecedora” e que os deixou “de coração cheio”.
“Senti um orgulho enorme de termos sido o país que acolheu e, como católica, perceber que quem diz que não há jovens na Igreja está muito enganado. E estes jovens não são uns ‘totós’, sabem divertir-se”, comentou Piedade, resumindo o sentimento: “Há bondade no ar”.
Mesmo à frente do palco, agarrada à bandeira do seu país, a mexicana Alexa Martinez, de 23 anos, contou à agência Lusa que saiu da missa que o Papa celebrou de manhã no Parque Tejo, em Lisboa, e seguiu direta para o Passeio Marítimo de Algés, no concelho de Oeiras, para o Encontro com os Voluntários.
“Assim que as portas abriram [às 12:00] corri muito muito para estar aqui, num bom lugar para ver o Papa”, disse emocionada.
A terminar a sua primeira jornada, contou que “esta experiência e as palavras de Francisco mostraram que viemos a este mundo para servir e não para sermos servidos e que sempre ganhas mais quando dás do que quando recebes”.
Alexa Martinez despede-se da JMJ de Lisboa “mais com alegria do que tristeza” porque pode “sentir e experimentar Deus desta forma foi muito bonito”.