A visita do Papa Francisco, entre quarta-feira e domingo, para a Jornada Mundial da Juventude, é a sétima de um pontífice em funções a Portugal, com Fátima como denominador comum.

Esta é a segunda vez que o Papa argentino vem a Portugal, sendo João Paulo II o detentor do maior número de visitas – três -, enquanto Paulo VI e Bento XVI vieram uma vez cada um.

A visita de Francisco começa na quarta-feira, estando prevista para o dia seguinte a cerimónia do Acolhimento com os jovens no Parque Eduardo VII, onde terá lugar a Via Sacra de sexta-feura, seguindo-se a visita a Fátima e a Vigília no sábado, e a missa final da Jornada Mundial da Juventude no domingo. Pelo meio haverá múltiplos encontros do Papa com autoridades, jovens, vítimas de abusos ou contactos com instituições sociais.

A primeira visita de um papa a Portugal ocorreu em 13 de maio de 1967, quando Paulo VI visitou Fátima nos 50 anos dos acontecimentos da Cova da Iria.

O papa aterrou na base aérea de Monte Real para uma visita pastoral e não oficial num período de tensão nas relações entre Portugal e o Vaticano, depois da visita papal à Índia.

Nem o Governo nem o presidente do Conselho, Salazar, gostaram que Paulo VI tivesse visitado a Índia em 1964, três anos após a invasão de Goa, Damão e Diu pelo Estado indiano, considerando a deslocação um “insulto à nação portuguesa”.

A visita a Fátima teve grande adesão popular, com milhares a aplaudirem, no percurso entre Monte Real e a Cova da Iria, o papa que, três anos antes, tinha anunciado a concessão ao santuário da Rosa de Ouro (distinção atribuída pelo papa a personalidades, santuários, igrejas ou cidades por serviços prestados à Igreja ou a bem da sociedade).

Quinze anos depois, entre 12 e 15 de maio, teve lugar a primeira visita de João Paulo II, marcada pelo agradecimento pela “proteção maternal de Nossa Senhora”, que lhe “conservou a vida” no atentado do ano anterior, em Roma.

“Venho hoje aqui porque exatamente neste mesmo dia do mês, no ano passado, se dava, na Praça de São Pedro, em Roma, o atentado à vida do papa, que misteriosamente coincidia com o aniversário da primeira aparição em Fátima, a 13 de maio de 1917”, disse João Paulo II, que reconheceu nesta coincidência “um chamamento especial” para estar em Fátima.

Nesta visita, registou-se nova tentativa de atentado. Desta vez, pelo padre Juan Khron, antigo discípulo espanhol do arcebispo ultraconservador francês Marcel Lefébvre que atentou contra João Paulo II, acusando-o de trair a Igreja. O papa escapou ileso.

Esta deslocação a Portugal levou o papa polaco, além de Fátima, a Lisboa, Vila Viçosa, Braga e Porto.

Em 1991, dá-se a segunda visita de João Paulo II a Portugal, entre 10 e 13 de maio, e além da Cova da Iria, também Lisboa, Açores e Madeira receberam Karol Wojtyla.

Na ocasião, o pontífice ouviu o então Presidente da República, Mário Soares, alertar para a situação em Timor-Leste, ainda a viver sob ocupação militar indonésia, desde 1975.

Finalmente, em 2000, em 12 e 13 de maio, decorre a terceira e última visita a Fátima de João Paulo II, então já doente e prestes a completar 80 anos.

Era grande a expectativa sobre a revelação do terceiro segredo de Fátima, numa visita em que os pastorinhos Jacinta e Francisco foram beatificados.

Segundo o Cardeal Sodano, então secretário de Estado do Vaticano, o terceiro segredo de Fátima “previa” o atentado contra João Paulo II, em 13 de maio de 1981.

Nesta peregrinação, o papa ofereceu a Nossa Senhora de Fátima o anel com o lema “Totus Tuus” que o cardeal Wyszyński lhe havia ofertado no início do seu pontificado.

Dez anos volvidos, entre 11 e 14 de maio, foi a vez de Bento XVI visitar Portugal.

Além de Fátima, onde já estivera, enquanto cardeal, anos antes, Joseph Ratzinger celebrou missa na Praça do Comércio, em Lisboa, que juntou cerca de 500 mil pessoas, e outra no Porto, na Praça da Liberdade.

No voo de Roma para Lisboa, Bento XVI tinha a mensagem preparada e era para o interior da Igreja: “a maior perseguição à Igreja” não vem de “inimigos de fora, mas nasce do pecado da Igreja”.

Comentando os escândalos de pedofilia que afetavam a imagem da hierarquia católica, o papa disse: “A Igreja tem uma profunda necessidade de reaprender a penitência, aceitar a purificação e implorar perdão”, sublinhando a “necessidade de justiça” neste processo.

Em 2017, no centenário das aparições, Francisco visitou pela primeira vez Fátima, quase repetindo o programa de Paulo VI, aterrando também em Monte Real.

Foram milhares os peregrinos que assistiram na Cova da Iria, no dia 13 de maio, à canonização de Francisco e Jacinta Marto, crianças que considerou como “exemplo”, tendo em conta “a força para superarem contrariedades e sofrimentos” que lhes “foi dada pela Virgem Maria, presença constante nas suas vidas”.

Na sua visita de menos de 24 horas a Portugal, fez apelos à “paz e concórdia entre os povos”.

Durante a sua presença no Santuário de Fátima, teve um encontro com o primeiro-ministro, António Costa, que lhe expressou a vontade de Portugal colaborar na promoção dos valores da proteção dos mais frágeis, como o acolhimento aos refugiados, a promoção da paz nas instâncias internacionais e o desenvolvimento de África.

Francisco reunira-se, logo à chegada a Monte Real, com o Presidente da República durante 10 minutos.

Durante as cerimónias de 13 de maio, o então bispo de Leiria-Fátima, António Marto, saudou a “voz profética” de Francisco, capaz de abater muros, de lançar pontes e de dar voz a quem não a tem.

PUB