O Geoparque Açores tem um “futuro promissor”, desde que continue a trabalhar, defendeu hoje um dos avaliadores da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que está de visita ao arquipélago.

“Acho que o futuro do Geoparque Açores é promissor e luminoso. Só têm de continuar com o trabalho que estão a desenvolver”, afirmou, em declarações à Lusa, o geólogo Goran Radonic, do Geoparque de Papuk, da Croácia.

Goran Radonic e Egídio Calabrese, do Geoparque de Pollino, de Itália, estão desde terça-feira no arquipélago para avaliar o Geoparque Açores enquanto membro da rede mundial da UNESCO (sigla em inglês).

Depois de São Miguel e Graciosa, chegaram hoje à ilha Terceira, onde terminam a visita no sábado.

Ainda sem poder antecipar o resultado do relatório final, Goran Radonic disse ter recolhido “boas impressões” da visita ao arquipélago.

“A geologia e as paisagens são fantásticas, mas também vimos nestes dias uma cooperação extraordinária entre a comunidade local e os produtores. É esse o cerne de cada geoparque. Não tem a ver apenas com a geologia, as pessoas também interessam. Esta cooperação é visível no Geoparque Açores”, frisou.

Para um geólogo, como Goran Radonic, os Açores são uma oportunidade para “aprender tudo sobre vulcões”, mas há cada vez mais pessoas a procurar os geoparques da UNESCO, mesmo sem formação na área.

“Acho que é uma tendência em crescimento na Europa e no mundo. As pessoas estão à procura das áreas designadas da UNESCO. Querem ver os sítios protegidos da UNESCO, seguem os mapas, investigam e ficam muito surpreendidas”, salientou.

Só em abril será conhecido o resultado da avaliação da organização ao Geoparque Açores.

Desde 2013, que o arquipélago integra a rede mundial, mas na anterior avaliação, realizada em 2021, obteve um “cartão amarelo”, com recomendações de melhoria, por isso está a ser avaliado novamente dois anos depois.

Eva Lima, geóloga e coordenadora científica do Geoparque, mostrou-se confiante de que, desta vez, o resultado será diferente.

“É importante para nós mantermos esta designação associada à UNESCO, porque ao fim ao cabo é um reconhecimento da importância da qualidade do nosso património geológico, do envolvimento das nossas comunidades nestas nossas paisagens, que para nós são normais, mas para quem vem de fora são exóticas”, frisou.

Com 121 geossítios nas nove ilhas e no mar, o Geoparque Açores foi “o primeiro geoparque arquipelágico do mundo” e o “primeiro a ter geossítios submarinos”.

“Estamos no meio do Atlântico, numa zona de junção tripla de placas tectónicas. Para os geólogos é uma zona especial”, sublinhou a coordenadora científica, realçando que o rifte entre o Faial e as Flores é “o maior geossítio” do geoparque.

Além de apresentar geossítios em “nove mosaicos diferentes”, separados pelo mar, o Geoparque Açores distingue-se por funcionar através de parcerias.

São já cerca de 70, entre empresas de animação turística, restaurantes, alojamentos, organizações não governamentais de ambiente, centros de interpretação ambiental ou museus.

“Temos parceiros em todas as ilhas. São importantes agentes locais para a sensibilização, para a promoção do nosso património natural e cultural, e marcam a presença do geoparque no quotidiano das nossas gentes e de quem nos visita”, sublinhou Eva Lima.

Segundo a geóloga, há “cada vez mais um maior envolvimento da comunidade”, como comprova a possível descoberta de um novo geossítio nos Fenais da Ajuda, na ilha de São Miguel.

“É um exemplo de como as pessoas sentem orgulho no seu território. Fomos chamados pela população local, pela junta de freguesia, a dizer que tinham ali uma rocha especial. Criou-se um trilho, um passadiço, um baloiço… Valorizaram o local”, explicou.

Quem visita os Açores procura sobretudo atividades de natureza e de mar, mas há cada vez mais interesse por conhecer o que escondem as paisagens.

“Antigamente, a pessoa ia ao miradouro, tirava uma ‘selfie’ e não percebia o que estava a ver. Agora através da explicação do seu guia, que teve formação para isso, através de algum material que temos no terreno ou através de um painel do geoparque, começa a perguntar”, revelou Eva Lima.

Há até quem se identifique com o arquipélago por residir noutro geoparque da rede.

“Esta semana deparámo-nos com pelo menos com três pessoas que já vinham de outros geoparques”, contou a geóloga.

A Geoaçores, que gere o Geoparque Açores, integra o Governo Regional e quatro grupos de ação local.

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