As Festas do Espírito Santo de Ponta Delgada, nos Açores, juntaram hoje milhares de pessoas no Campo de São Francisco, no centro da cidade, na partilha de cerca de 14 mil sopas servidas gratuitamente.
Quando o relógio bateu as 12:00, um cortejo formado pelo executivo municipal de Ponta Delgada e pelas voluntárias que prepararam as sopas saiu do Coliseu Micaelense em direção ao Campo de São Francisco.
“Viva ao mordomo! Viva ao Espírito Santo!”, ouviu-se quando a comitiva chegou ao destino.
O momento simbólico marcou o arranque de um dos pontos altos das Festas do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada, onde foram servidas 14 mil doses de sopa e 10 mil de arroz doce, preparadas por dezenas de voluntárias ao longo dos últimos dias.
“Tudo o que diga respeito ao Espírito Santo eu estou lá. Gosto imenso dessas festas”, começou por dizer à agência Lusa Dina Medeiros, 69 anos, a voluntária mais antiga da equipa que confecionou a refeição.
As sopas levam “muita coisa”, como manteiga, cravinho, pão, carne e hortelã. Depois de “tanto trabalho”, é uma satisfação ver que “está tudo espetacular”, reconheceu.
“As sopas estão muito boas. Recomendamos a todos os que queiram cá vir. Aos nossos emigrantes, se não conseguirem vir cá este ano, que venham para o ano. Isto é uma grande festa”, acrescentou.
Ao lado, Paula Mendonça foi voluntária este ano pela primeira vez. Para o ano vai repetir a experiência: apesar de dar muito trabalho, o “convívio é muito saudável”.
“Não imaginava o que era. Estou farta de ajudar em todas as Festas do Espírito Santo na minha freguesia, mas não imaginava o que isto era. As pessoas deviam ver as quantidades. Gostei muito. Gosto de contribuir. Para o ano, se Deus quiser, volto novamente”, afiançou.
As sopas são servidas em vários postos ao longo do Campo de São Francisco, com milhares de pessoas a formar extensas filas à espera da vez.
“São boas as sopas, estão muito saborosas. É uma forma de conviver muito saudável, quer para os novos, quer para os mais idosos”, afirmou Herberto Quaresma, após se ter servido.
O natural do Pico, a residir em São Miguel “há muitos anos”, revela que vem àquelas festas há 20 anos, desde que a Câmara Municipal de Ponta Delgada começou a organizar as celebrações como forma de homenagear a tradição secular, que acontece em todas as ilhas dos Açores.
“Isto também é uma tradição no Pico. Já que não posso estar lá, estou aqui”, referiu.
A refeição comunitária foi animada. Houve quem improvisasse um palco para a refeição e quem tivesse ido logo de manhã para conseguir lugar numa das mesas.
Foi o caso de Maria de Lourdes Pragana, natural do concelho da Lagoa, que foi para o Campo de São Francisco às 10:00: “Gosto muito destas festas. Venho todos os anos, sempre que posso. Eu adoro essas festas. […] Gosto mais é das sopas e gosto muito do convívio com as pessoas.”
No local, grupos de turistas olhavam admirados para os participantes enquanto recebiam a explicação dos guias sobre o que ali se passava. Houve gente de todas as idades e proveniente de vários pontos da ilha e da diáspora açoriana.
“É bom que a tradição se mantenha. É uma tradição muito típica. A fé no Espírito Santo é algo muito açoriano. Gosto muito das sopas”, afirmou Margarida, de 14 anos.
O “cidadão” José Manuel Bolieiro, presidente do Governo dos Açores, também marcou presença e, em declarações à Lusa, realçou a importância do culto para a “identidade açoriana”.
“É um cidadão que está aqui e que acredita muito nesta nossa magnífica tradição de devoção ao Divino Espírito Santo e da experiência das grandes lições que o Espírito Santo dá para a vida comum e para a comunidade: partilha, igualdade e esta comunhão de que as sopas são a melhor representação”, declarou.
O líder do executivo regional testemunhou a surpresa dos turistas quando convidados a partilhar uma refeição gratuita: “Temos turismo de contemplação da natureza, que é magnífica, mas também um turismo de contemplação e participação nas nossas identidades culturais.”
O presidente da Câmara de Ponta Delgada, que correu todas as mesas para saudar os presentes, também explicou que as sopas “dão significado e corpo ao essencial do Espírito Santo”.
“Estas sopas, este arroz doce, este convívio que fazemos aqui no Campo de São Francisco não é mais do que a exteriorização das Festas do Divino Espírito Santo. Na parte religiosa que todos nós assumimos, mas também dando corpo à realidade da partilha”, reforçou Pedro Nascimento Cabral.
Esta, disse, é uma edição especial, não apenas por ser a vigésima, mas também por Ponta Delgada ter assinado um acordo de geminação com Alenquer (distrito de Lisboa), onde nasceram as festas em honra do Espírito Santo, em 1321.
“Com este gesto de partilha assumimos aquilo que são os dons do Divino Espírito Santo: a sabedoria, a inteligência, o conhecimento, a fortaleza e o conselho”, concluiu.