A Federação Agrícola dos Açores considerou hoje que a produção de leite nacional está “cada vez mais ameaçada” pela redução do preço que é pago aos produtores, apesar de acreditar “convictamente” no setor.
“Num período em que a maioria dos custos dos fatores de produção continuam elevados e em que a inflação permanece a níveis superiores ao desejado, a Federação Agrícola dos Açores lamenta profundamente a atitude da Lactogal em diminuir, a partir de 01 de julho, o preço de leite à produção em três cêntimos no continente, e pela Pronicol, em dois cêntimos nas ilhas Terceira e Graciosa”, refere a organização, em comunicado.
Segundo a federação, produção de leite nacional “continua a ser fortemente abalada” pelas “decisões prepotentes e unilaterais da indústria, que continua a contribuir para a diminuição de produtores de leite, principalmente, no continente”.
“A evolução das sociedades não pode ser feita à custa da contínua delapidação de um setor agrícola, nomeadamente, o do leite, que já foi fundamental na coesão sócio económica em muitas regiões do continente português”, sustenta.
A Federação Agrícola dos Açores aponta ainda “que o Pingo Doce não anunciou ainda qualquer baixa de produção de leite à produção, o que significa que existem condições económicas no setor industrial capazes de suster esta baixa”.
“Infelizmente, esta postura séria e responsável não é extensível à restante indústria”, lamenta.
Ainda de acordo com a nota, no caso regional, a baixa de preço do leite tem resultado numa diminuição da produção, “que tenderá a agravar-se face à constante degradação do preço de leite que se vem registando na região”.
A Federação Agrícola dos Açores, presidida por Jorge Rita, diz acreditar “convictamente na fileira do leite”, mas alerta que “as estratégias adotadas pela indústria constituem uma constante ameaça ao seu futuro”.
Na terça-feira, a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) anunciou que o preço pago ao produtor de leite pelas cooperativas associadas da Lactogal sofreu uma nova redução, de três cêntimos por litro, desde o início de julho.
Em comunicado, a associação recordou que “esta é a segunda redução no preço ao produtor no espaço de dois meses [em 01 de maio as cooperativas associadas da Lactogal e a Parmalat Portugal reduziram em cinco cêntimos o preço pago à produção], acumulando uma redução total de oito cêntimos por litro”.
Ironizando que, “por ‘coincidência’”, esta redução “ocorreu também em quase todos os compradores e indústrias privadas do continente e dos Açores, com a honrosa exceção da marca Pingo Doce, que até agora manteve o preço aos seus produtores”, a Aprolep salientou que “representa uma perda mensal de 12,5 milhões de euros em todos os produtores”.
Segundo a associação, acresce que esta descida “ocorre numa altura crítica, quando a agricultura de Portugal e Espanha sofre os efeitos da seca que levou à redução da produção de forragem, ausência de pastagens, falta de água para a produção de milho em algumas regiões e subida vertiginosa do preço da palha, cuja fibra é fundamental e cujo preço teve aumentos de quase 300%”.