Patrícia Miranda, Deputada do PS/A na ALRAA

Este fim-de-semana decorreu o XIX Concurso Micaelense da Raça Holstein Frísia, o qual, mais uma vez, foi palco da excelência das explorações leiteiras de São Miguel e, consequentemente, dos Açores.

A primeira referência em território nacional de vacas pretas e brancas, provenientes do norte da Europa, surgiu no Ribatejo, em meados do século XVIII.

Nos Açores, embora se reporte apenas aos finais do século XIX a existência de animais desta raça, a forma surpreendente com que se adaptaram à Região, leva a que tenhamos de considerar, também os Açores, como parte integrante desta raça ímpar para a produção de leite.

Os animais desta raça possuem uma morfologia nitidamente de aptidão leiteira, facilmente observada no grande desenvolvimento do seu sistema mamário e com uma capacidade corporal, que lhes permite consumir grandes quantidades de forragem e valorizá-la.

Nos últimos anos assistimos a um esforço enorme conducente ao melhoramento da raça, por parte dos criadores da Região.

Para se aproximar do modelo de vaca Holstein-Frísia ideal, o animal deve ter membros de boa conformação, um úbere bem-adaptado à ordenha mecânica e facilidade de parto. Um exemplar com essas características é o esperado, porque estão asseguradas a sua longevidade e a sua capacidade reprodutiva e produtiva.

É assumido que os Açores e, São Miguel em particular, têm animais de grande valor genético muito próximos da excelência funcional, facto comprovado pelo Livro Genealógico da raça.

Embora a Região Autónoma dos Açores represente cerca de 16,7% das classificações morfológicas realizadas anualmente para o Livro, a percentagem de vacas da Região com a classificação Excelente, no todo nacional, é de 70%.

Para melhor compreender a evolução que o efetivo Holstein Frísia teve nesta ilha ao longo dos últimos anos, basta observar os excelentes exemplares presentes nos concursos, que se realizam em São Miguel. As campeãs, bem como os animais melhor classificados em pista, estão ao nível do que é apresentado nos melhores concursos europeus.

Os 141 animais presentes no XIX Concurso são a prova do empenho e da dedicação dos nossos produtores de leite. A qualidade dos animais presentes é inquestionável e ressalta à vista de todos os que, nestes dias, visitaram o recinto.

Mas, o concurso micaelense mais que uma montra do que de melhor se faz nos Açore, é também um espaço de convívio entre agricultores e famílias. É um encontro de gerações, não fosse o concurso juvenil um exemplo do futuro, que a Agricultura tem na região, atendendo à elevada adesão de jovens que nele participam.

E aqui, ressalto a importância de se olhar para estes jovens, de apostar neles, da necessidade de se criar e desenvolver políticas, que os protejam e projetem. É um erro, uma incapacidade e uma falta de estratégia não apostar nestes jovens, que são o nosso futuro!

O esforço que tem sido feito pela produção tem sido evidente, resultando em animais de excelência, com uma produção de excelência, originando produtos apreciados, não só na Região, mas principalmente no exterior.

No entanto, os produtores de leite atravessam sérias dificuldades, conhecidas por todos nós, resultantes de um conjunto de fatores. O setor atravessou um período prolongado de grave desequilíbrio, entre preço pago à produção, e aumento do custo dos fatores de produção e que, infelizmente, se volta a verificar, com as mais recentes descidas no preço do leite pago à produção.

Nos tempos difíceis que assolam todo o setor leiteiro, possuir animais mais funcionais e adaptados à produção é seguramente uma mais-valia.

Existem produtores que fizeram grandes investimentos, não só nos seus animais, mas também nas suas explorações, por isso, não podem parar de produzir, mesmo que o futuro passe por apostar em produções mais ricas em proteína e gordura, que permitam a produção de derivados, como o queijo, mas nunca deixar de produzir!

Principalmente, deixar de produzir, aliciados pela espectativa que o Governo Regional gerou nos produtores de que reduzindo a sua produção, estes iriam receber um apoio por cada tonelada de leite reduzida na sua exploração. Há mais de um ano que a região está a perder leite, mais de 15 milhões de euros, ficaram os produtores a perder, só em 2022, e o dito apoio que tarda em chegar!

Tudo aquilo que é desenvolvido, todas as políticas que são criadas no sentido de irem contra este desígnio, não só terão resultados desastrosos, como irão colocar em causa o sustento de muitas famílias e o equilíbrio da nossa economia. Não é assim que se defende um setor tão importante para a nossa economia, não é assim que se defende os produtores de leite dos Açores. Não é assim que se espera sustentabilidade e equidade em toda a fileira.

Espero que para os Açores em geral e, para a ilha de S. Miguel em particular, o esforço efetuado nos últimos trinta anos, a favor do melhoramento da raça Holstein Frísia permaneça, permitindo que as nossas explorações sejam mais competitivas na produção de leite, naquela que é seguramente uma das regiões com maior aptidão em toda a Europa, porque, como admite este governo “os Açores são uma região produtora de leite”.

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