A associação ambientalista Zero alertou hoje que o centro de processamento de resíduos das Flores está sobrelotado, apelando às autarquias da ilha e ao Governo dos Açores para levar o “assunto a sério” por uma questão de “salubridade pública”.

“As autarquias das Flores e o Governo Regional têm de levar esse assunto a sério porque é uma questão de salubridade pública. De repente, pode acontecer, de um dia para o outro, a unidade deixar de receber resíduos. E depois como é? Esta é uma possibilidade que está em aberto”, afirmou Rui Berkemeier, em declarações à agência Lusa.

O dirigente da Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável, que visitou o centro de processamento de resíduos da ilha das Flores, alertou para a sobrelotação do espaço devido à acumulação de resíduos.

“Tornou-se uma quantidade anormal de resíduos porque o espaço é limitado. (…) A gestão é extremamente complexa. Está mesmo à cunha”, afirmou.

Rui Berkemeier realçou que a unidade de tratamento da ilha “funcionava muito bem” antes de outubro de 2019, mas a operação ficou condicionada com a destruição do único porto comercial das Flores pelo furacão Lorenzo.

“O problema agora é que os resíduos terão tido problemas de infestação e haverá um problema com os transportadores para os levar”, revelou.

Ressalvando que a associação ainda está a “tentar perceber em detalhe” a situação, o especialista em gestão de resíduos sugere uma “localização alternativa para colocar temporariamente os resíduos rejeitados”, criando uma “zona de depósito temporário”.

“Enquanto tivermos na mesma unidade de tratamento, que já está muito cheia, os resíduos que estão a ser tratados, mais os que já foram tratados e aqueles que foram rejeitados, é difícil fazer o que quer que seja”, assinala.

Entretanto, prossegue, os resíduos devem ser transportados para outra infraestrutura, porque para o centro de processamento funcionar “não pode existir aquele passivo de resíduos acumulados”.

“Se houver alguma infraestrutura que não estiver a ser utilizada, como um armazém ou um outro local, devem ser colocados lá os resíduos que estão a atrapalhar o processo de tratamento de resíduos da unidade de tratamento mecânico e biológico”, explicou.

Berkemeier defendeu que as “autoridades oficiais têm de resolver o problema”, enaltecendo o trabalho realizado pelo centro de processamento de resíduos, que considerou “admirável” por ser feito em “condições muito difíceis”.

“O importante é encontrar uma localização temporária nas Flores para a colocação desses resíduos e criar condições para que a unidade entre em funcionamento normal”, salientou.

A 04 de maio, o BE/Açores denunciou a “situação caótica” de “acumulação” de resíduos sólidos urbanos (RSU), no centro de processamento das Flores, devido aos condicionamentos na operacionalidade dos navios que realizam o escoamento regular.

Ao que foi possível apurar, e de acordo com o BE, é preciso escoar “cerca de 1.700 toneladas (105 contentores) de RSU” e “desde 10 de fevereiro que não é expedido qualquer refugo” e estão “180 fardos (15 contentores) prontos a embarcar, assim como 250 toneladas (25 contentores) de resíduos em espera para sair da ilha”.