Quatro em cada 10 crianças do pré-escolar nos Açores têm sobrepeso ou obesidade

Quatro em cada 10 crianças do pré-escolar nos Açores têm sobrepeso ou obesidade e nos vários níveis de ensino foi detetada uma redução da proficiência motora, segundo dados preliminares de um estudo apresentados hoje.

“Se falarmos na região de crianças do 2.º e 3.º ciclo e secundário, uma em cada três tem sobrepeso ou é obesa. Em contrapartida, no pré-escolar, que foi provavelmente o grupo populacional mais afetado pela prisão da pandemia [de covid-19], o número é mais preocupante: quatro em cada 10”, adiantou, em declarações aos jornalistas, o professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto José Maia, coordenador do projeto Despertar, que avalia a condição física de crianças e jovens nos Açores.

O estudo, que começou a recolher dados em novembro/dezembro de 2022, abrangeu, até 01 de maio, 3.500 crianças e jovens do pré-escolar ao secundário nos Açores, entre os 3 e os 18 anos.

Além de um aumento do peso, os dados preliminares indicam que há uma “menor proficiência motora”, nos diferentes níveis de ensino, em comparação com estudos realizados em anos anteriores nos Açores, na Madeira, em Matosinhos ou nos Estados Unidos da América.

No 1.º ciclo, por exemplo, a taxa de sucesso na realização de quatro ou cinco habilidades motoras fundamentais conjuntamente é “baixa” e inferior a dados recolhidos em Matosinhos.

Neste nível de ensino, as raparigas mostraram ser “menos hábeis” do que os rapazes.

Também no 2.º e 3.º ciclos houve uma diminuição da taxa de sucesso de aptidão física, em comparação com dados de 2007.

Apenas um em cada 10 jovens passou nos critérios das provas de aptidão física e só um em cada cinco apresentou um nível “funcional” na avaliação postural dinâmica.

“É preocupante, mas não é surpreendente. É preocupante, porque temos de resolver esse problema, não é surpreendente, porque tem a ver com os efeitos imediatos e retardados da pandemia”, salientou o coordenador do projeto.

Há cinco ilhas com dados já fechados, mas o relatório final só deverá estar concluído no primeiro trimestre de 2024.

Até meados de junho, termina a recolha de dados nas escolas e até ao final do ano serão monitorizados a atividade física, os hábitos e a qualidade de sono em ambiente familiar.

O objetivo inicial era envolver 7.000 crianças e jovens (cerca de 25% do total da região), número que foi reduzido para 5.000, mas este é, ainda assim, segundo José Maia, o “estudo mais extenso realizado à escala do país” sobre a condição física de crianças e jovens.

Só o relatório final pode dar “uma leitura mais detalhada” sobre o que pode ter estado na origem do aumento da obesidade e da redução da proficiência motora, mas o docente da Universidade do Porto apontou algumas possíveis causas.

“Isso pode estar associado aos efeitos da pandemia, por um lado, à circunstância de as crianças terem sido cerceadas de tudo quanto faziam nas suas atividades do quotidiano. É provável que haja algo que tenha a ver com esta pressão das tecnologias da informação. Toda a gente anda praticamente confinada ao telemóvel”, explicou.

O cenário nos Açores não é, no entanto, diferente do que se regista noutros países e é preciso ter em conta que não há dados nacionais atualizados após a pandemia de covid-19.

“Não são valores de estranhar porque isso aconteceu também noutros países. O que aconteceu na região não é nada de estranho”, ressalvou José Maia.

O relatório final incluirá sugestões de políticas a adotar para melhorar estes indicadores.

Entre o que pode ser repensado ou alargado, o coordenador do projeto aponta a oferta desportiva, os programas de educação física nas escolas ou a oferta de escolinhas do desporto.

Segundo a secretária regional da Saúde e Desporto, Mónica Seidi, os números apresentados vão ao encontro do relatório preliminar do Plano Regional de Saúde e o relatório final dará “uma ajuda técnica às decisões políticas”.

“Há um longo caminho pela frente, há desafios enormes que vamos ter de ultrapassar juntos, com vários setores do governo, não só Saúde, não só Desporto, mas também Educação. É para isto que estes projetos servem, para nos dotar de ferramentas, com base de sustentabilidade para decisões que terão de ser tomadas”, frisou.

O estudo está a ser realizado por cerca de três dezenas de professores de Educação Física e alunos de Desporto, envolvendo cinco secretarias do Governo Regional dos Açores.

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