O presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, manifestou hoje preocupação com a crise política nacional e sustentou que, em alternativa à degradação governativa, deveria apostar-se na estabilidade.

“Vejo esta situação com preocupação. Na realidade, sou uma referência da estabilidade e creio que o essencial era que, em vez da degradação política governativa, se apostasse sobretudo na estabilidade e na serenidade para servir o interesse nacional”, declarou o social-democrata.

Nos últimos dias, o ministro das Infraestruturas, João Galamba, tem estado envolvido numa polémica com o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro, demitido há uma semana, sobre informações a prestar à Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP.

O caso envolveu denúncias contra Frederico Pinheiro por violência física no Ministério das Infraestruturas e furto de um computador portátil, já depois de ter sido demitido, e a polémica aumentou quando foi noticiada a intervenção do Serviço de Informações e Segurança (SIS) na recuperação desse computador.

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou na terça-feira que não aceitou o pedido de demissão de João Galamba do cargo de ministro das Infraestruturas entregue nesse dia.

“Trata-se de um gesto nobre que eu respeito, mas que em consciência não posso aceitar”, declarou António Costa aos jornalistas, na residência oficial de São Bento, em Lisboa.

O Presidente da República assumiu, entretanto, uma discordância em relação ao primeiro-ministro “quanto à leitura política dos factos” que o levaram a manter João Galamba como ministro das Infraestruturas.

A posição consta de uma nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, depois de António Costa anunciar a decisão de não aceitar o pedido de demissão de João Galamba.

“O Presidente da República, que não pode exonerar um membro do Governo sem ser por proposta do primeiro-ministro, discorda da posição deste quanto à leitura política dos factos e quanto à perceção deles resultante por parte dos portugueses, no que respeita ao prestígio das instituições que os regem”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

Bolieiro, que ressalvou não ser comentador político, frisou que fica “preocupado com a situação” e apelou “à serenidade pela estabilidade”, acrescentando que se invoca “o interesse dos Açores face aos vários assuntos pendentes com o Governo da República”.

“O que esperamos é resolver em tempo útil todas estas pendências, que são essenciais para fazer justiça, e que o Estado cumpra as suas responsabilidades para com os Açores, [num] forte contributo num período de várias crises acumuladas na Europa e também no país”, apontou o líder do executivo açoriano.

Bolieiro defendeu a necessidade de se “potenciar a execução do Plano de Recuperação e Resiliência como instrumento fundamental, bem como a entrada do novo período de programação financeira plurianual”, sendo este um “tempo essencial para que haja continuidade estável na governação”.

Questionado, já na qualidade de líder do PSD/Açores, sobre uma eventual encenação por parte de António Costa no processo à volta do ministro João Galamba – conforme foi já dito por alguns representantes políticos – Bolieiro considerou que “tudo foi muito surpreendente e instável”, recusando-se a fazer mais comentários para não “contribuir para a degradação das instituições”.

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