O Caldeirão do Corvo vai ser alvo de um conjunto de iniciativas para combater a eutrofização, entre as quais a instalação de uma vedação visando limitar o acesso do gado, disse hoje o secretário açoriano do Ambiente.

Alonso Miguel, em declarações à Lusa, especificou que se irá proceder à instalação de seis quilómetros de vedação para limitar o acesso do gado naquela lagoa da mais pequena ilha dos Açores, com um perímetro de 2,3 quilómetros e uma profundidade de 320 metros, e que tem vindo a ser alvo de um processo de eutrofização identificado na década de 90.

O Caldeirão é uma “reserva de água estratégica”, “fundamental para recarregar os aquíferos” da ilha do Corvo, sendo ainda um dos geosítios mais procurados pelo turismo nos Açores devido à sua beleza natural.

O secretário regional do Ambiente e Alterações Climáticas do Governo dos Açores referiu que, no Plano de Gestão Hidrográfica dos Açores 2022-2027, “está programada uma medida de redução dos impactos da poluição em massas de água artificiais interiores, que inclui uma ação especificamente dirigida à lagoa do Caldeirão para a melhoria da conetividade das suas vertentes”.

A iniciativa “consiste no desenvolvimento e implementação de um programa de ações com vista ao aumento da agregação e compactação do solo das suas vertentes, de forma reduzir a propensão para a queda dos musgões”, especificou o governante.

O titular da pasta do Ambiente referiu que, no âmbito da iniciativa Life IP Azores Natura, “está prevista uma intervenção, numa área superior a 100 hectares, onde serão plantadas espécies endémicas (5200 unidades) nas vertentes da lagoa para ajudar a estabilização dos musgões e a conexão das vertentes”.

Alonso Miguel apontou que ,“devido ao pastoreio livre na lagoa, vai ser promovida uma ação que visa melhorar os ‘habitats’ ali existentes através da instalação de seis quilómetros de vedação para limitar o acesso do gado”.

É caso dos ‘habitats’ prioritários das tufeiras, que são considerados importantes sistemas naturais de retenção e purificação da água, visando melhorar a qualidade da massa de água.

O responsável político, questionado sobre a eventual retirada do gado do interior da lagoa do Caldeirão, afirmou que este é um “processo lento e fortemente dependente da atividade pecuária”.

“É um processo complexo fazer uma retirada total do gado da bacia hidrográfica da lagoa do Caldeirão”, declarou, para salvaguardar que “enquanto a atividade agropecuária se mantiver não é possível eliminar a principal fonte de poluição difusa”.

Para além da eutrofização, a lagoa do Caldeirão apresenta fissuras que contribuem para eliminar água do seu interior, tendo o secretário regional referido que esta é uma “condição muito especifica e não é justificável fazer uma intervenção.

“No fundo, o que poderia ser realizável era uma impermeabilização da lagoa”, frisou, recordando que a lagoa do Caldeirão constituiu uma reserva natural integrada na Rede Natura 2000.

O Caldeirão do Corvo está a ser alvo ainda de um processo de erosão e nada pode ser feito, porque se trata de um fenómeno “normal”, segundo um especialista ouvido pela Lusa, em 2022.

Nicolau Wallenstein, vulcanólogo – que chefiou uma equipa que procedeu a um estudo, em 2004, na montanha vulcânica Monte Gordo, denominada por Caldeirão do Corvo, a pedido da Direção Regional do Ambiente – considera que o monumento sofre de um “processo de erosão natural e bastante avançado devido aos ventos dominantes dos Açores”.

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