O bispo de Angra presidiu à primeira Vigília Pascal na catedral e desafiou os cristãos açorianos a serem “homens e mulheres novos” movidos “pelo amor e pela amizade”, capazes de ser igreja em saída e levar a luz ao mundo

O Bispo de Angra afirmou esta noite na Vigília Pascal que hoje o mundo precisa de um anúncio tão forte como foi o da ressurreição há mais de dois mil anos e para isso os cristãos devem ser “células de luz para o mundo”.

D.Armando Esteves Domingues presidiu esta noite à primeira Vigília Pascal do seu episcopado na diocese insular e deixou um apelo a todos os cristãos para que se façam “homens e mulheres novos” para vencer as trevas que ainda hoje ensombram o mundo.

“Parece que o reino das trevas se quer de novo apoderar das mentes, dos corações, dos pensamentos de uma humanidade ainda guiada pela lógica do medo, do arrivismo, do domínio sobre o outro, da violência, da retaliação, enfim, pelo mistério do mal e da iniquidade” afirmou o prelado.

“Nos nossos dias, de facto, parece que a história da humanidade foi engolida pelas trevas, afundada na loucura absurda de novas guerras com o risco de armas que ameaçam a própria humanidade, mas também de outras guerras assentes na riqueza desmesurada e indecente de poucos e a pobreza intolerável de muitos; da fartura e esbanjamento de bens numa parte do mundo enquanto outras lutam desesperadamente pela sobrevivência; do mundo injusto em que uns poucos ricos têm direito a tudo e tantos morrem sem terem tido acesso ao que têm direito”, especificou.

“São demasiadas trevas, é demasiada a escuridão! Ressuscita, Senhor, para este mundo!” afirmou o bispo de Angra que pediu empenho para que os cristão possam ser a luz de Cristo no mundo.

“É necessário um anúncio tão forte como foi a Ressurreição de Cristo, só possível com mulheres e homens novos que não pactuem com o que é velho e com marcas de morte. Precisam-se homens novos movidos pelo amor e capazes de sair, de ser Igreja em saída”, afirmou, pedindo “amor e gratuidade “ nesta entrega.

“É necessária uma amizade sincera entre as pequenas células de cristãos, onde o Espírito do ressuscitado vive, para se tornarem células dos ambientes onde estão no mundo frio e dividido” sublinhou lamentando “o empobrecimento das relações” que acabou por “debilitar a força evangelizadora” da Igreja.

“Se não há amizade entre os homens, o rosto de Deus desvanece-se e até mesmo o anúncio da ressurreição de Jesus aparece como um eco distante e, em última análise, irrelevante porque fala de um acontecimento passado. Se não sentis um amor capaz de compartilhar o evangelho, algo está errado”, frisou.

Dirigindo-se especialmente aos catecúmenos (duas mulheres) que receberam esta noite o baptismo, o bispo de Angra pediu-lhes para assumirem o compromisso de levar ao mundo a luz que receberam esta noite.

“Caros catecúmenos, contai com a ajuda desta Assembleia Santa que encontrareis em qualquer lugar da terra. Sois batizados para Cristo, numa Igreja Mãe que precisa de vós e vos envia em missão. Não sois batizados apenas para bem próprio. No batismo somos expropriados de nós mesmos, feitos santos em Cristo para ser alimento para a santificação do mundo. Sereis leigos no mundo, pela paixão a Cristo e aos irmãos que podeis ou não servir. A escolha continuará a ser vossa”, disse alertando para o perigo da chama se apagar.

“A luz que não se apega, apaga-se! Deixemo-la brilhar, sejamos nós esta Luz na Luz que é Cristo, cristãos, outros Cristo a viver no meio dos homens”, disse o bispo de Angra.

“Grande noite esta! As trevas iluminaram-se e Cristo venceu a própria escuridão da morte”, salientou lembrando que esta luz não se impõe mas é a única que “derrota o mal, lava a culpa, restitui a inocência aos pecadores, a alegria aos aflitos, dissipa o ódio, dobra a dureza dos poderosos e promove a concórdia e a paz”.

Esta é a noite grande da Igreja, o principal e mais antigo momento do ano litúrgico.

Cinco elementos compuseram a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Batismo, por fim, a liturgia Eucarística.

Esta é uma celebração mais longa do que habitual, em que foram proclamadas mais passagens da Bíblia do que as três habitualmente lidas aos domingos, continuando com uma celebração batismal e a comunhão.

A vigília começou com um ritual do fogo e da luz que evoca a ressurreição de Jesus; o círio pascal foi abençoado, antes de o presidente da celebração inscrever a primeira e a última letra do alfabeto grego (alfa e ómega), e inserir cinco grãos de incenso, em memória das cinco chagas da crucifixão de Cristo.

A inscrição das letras e do ano no círio são acompanhadas pela recitação da fórmula em latim ‘Christus heri et hodie, Principium et Finis, Alpha et Omega. Ipsius sunt tempora et sæcula. Ipsi gloria et imperium per universa æternitatis sæcula’ (Cristo ontem e hoje, princípio e fim, alfa e ómega. Dele são os tempos e os séculos. A Ele a glória e o poder por todos os séculos, eternamente).

O ‘aleluia’, suprimido no tempo da Quaresma, reapareceu em vários momentos da missa como sinal de alegria.

A celebração articulou-se em quatro partes: a liturgia da luz ou “lucernário”; a liturgia da Palavra; a liturgia batismal; a liturgia eucarística.

A liturgia da luz consiste na bênção do fogo, na preparação do círio e na proclamação do precónio pascal.

A liturgia da Palavra propõe sete leituras do Antigo Testamento, que recordam “as maravilhas de Deus na história da salvação” e duas do Novo Testamento: o anúncio da Ressurreição segundo os três Evangelhos sinópticos (Marcos, Mateus e Lucas), e a leitura apostólica sobre o Batismo cristão.

A liturgia batismal é parte integrante da celebração, fazendo-se bênção da fonte batismal e a renovação das promessas. Na Sé duas mulheres receberam o sacramento do Batismo.

Do programa ritual consta, ainda, o canto da ladainha dos santos, a bênção da água, a aspersão de toda a assembleia com a água benta e a oração universal.

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