A Câmara de Comércio de Angra do Heroísmo (CCAH) acusou hoje a Eletricidade dos Açores (EDA) de ter uma gestão ineficiente e de não querer otimizar a rede, apostando numa ligação de todas as ilhas por cabo submarino.

“A EDA prefere continuar a receber dinheiro da República, pela sua ineficiência de gestão, com claros custos para todo o tecido empresarial dos Açores, do que otimizar a rede. Uma empresa com 51% de capitais públicos não pode fazer a proteção dos investidores. A sua obrigação deve ser a defesa do tecido empresarial da região”, avançou a associação empresarial, que representa as ilhas Terceira, São Jorge e Graciosa, em comunicado de imprensa.

Na inauguração do novo sistema de armazenamento de energia por bateria da ilha Terceira, a 13 de março, o presidente do conselho de administração da EDA, Nuno Pimentel, alertou para os elevados custos de produção de energia nos Açores, alegando que a região tem “nove mercados isolados”, porque não é “técnica e economicamente viável” transportar eletricidade por cabos submarinos entre as nove ilhas.

Nuno Pimentel disse ainda que o arquipélago ficou excluído do mercado liberalizado europeu “por decisão da Comissão Europeia”, por se integrar nas “micro-redes isoladas”, e ter consumos “muito distantes dos 3.000 gigawatts, dimensão considerada mínima para um mercado liberalizado eficiente”.

Agora, a CCAH, liderada por Marcos Couto, manifestou a “total discordância” com as declarações do presidente da EDA, criticando a “grande resistência à liberalização do mercado energético nos Açores”.

“A nível nacional a expectativa é que todos os clientes do mercado regulado transitem para o mercado livre de energia até ao final de 2025, enquanto nos Açores, tudo se mantém. Mas, pode-se e deve-se fazer mais”, apontou.

Nuno Pimentel lembrou que os Açores já tinham tentado instalar, sem sucesso, um cabo submarino para partilha de energia entre as ilhas do Pico e do Faial, na década de 80, alegando que a região não tinha “fundos marinhos adequados” para soluções deste tipo.

A CCAH alega, no entanto, que “as soluções evoluíram muito ao longo dos anos”, dando como exemplo “o investimento avultado na interligação entre redes elétricas da Noruega e Alemanha, considerado projeto de interesse comum pela União Europeia”.

“Este cabo submarino tem mais de 600 quilómetros de comprimento. Não nos parece, como referido pelo administrador, que o fundo do mar dos Açores, onde existem ligações por cabo de rede, não possa comportar um cabo semelhante e adaptado à nossa realidade”, referiu.

A associação empresarial considerou que a estratégia da energia para os Açores está “totalmente errada” e desafiou a EDA a apostar em medidas que tornem “a energia mais barata, através da ligação por cabo entre todas as ilhas, otimizando a rede, através da canalização dos excessos de produção para as ilhas onde ela é necessária”.

“A mudança é sempre difícil e é sempre mais fácil aceitar o que conhecemos, ou seja, deixar tudo como está, incluindo lucros anuais de 10 milhões de euros, mas não podemos ignorar que apenas apostando em soluções inovadores podemos efetivamente desenvolver a nossa região e melhorar as condições do povo açoriano”, frisou.

A CCAH apelou a uma “reflexão estratégica sobre o futuro do setor energético nos Açores”, num ofício enviado ao presidente do Governo Regional, José Manuel Bolieiro (PSD/CDS-PP/PPM), no qual também manifestou “preocupação” com o aumento dos preços da energia, reivindicando a “implementação de medidas compensatórias”.

Entre as propostas enviadas ao presidente do executivo açoriano estão um pedido de uma revisão intermédia do preço da eletricidade a meio do ano e a criação de apoios diretos aos grandes consumidores, com autorização da União Europeia.

Os empresários reivindicam ainda a melhoria dos incentivos existentes e a criação de novos incentivos ao uso de energias renováveis, o aumento de postos de carregamento de veículos elétricos e a criação de benefícios fiscais para quem usa estes veículos, entre outras medidas.

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