O presidente da Liga de Bombeiros Portugueses manifestou hoje estranheza pelo facto de os soldados da paz dos Açores não terem integrado a missão portuguesa de apoio às vítimas do sismo na Turquia e na Síria.
“Numa situação destas, os bombeiros dos Açores deviam ser os bombeiros de primeira linha, porque têm muita experiência na área de estruturas colapsadas e têm experiência em lidar com situações como um sismo”, insistiu António Nunes, que defende a necessidade de “estreitar relações” entre a Proteção Civil nacional e regional.
O responsável falava em declarações aos jornalistas, à margem de uma reunião do Conselho Executivo da Liga de Bombeiros Portugueses, que está reunida esta sexta-feira e sábado na ilha do Faial, nos Açores.
António Nunes lembrou que os bombeiros dos Açores têm “capacidade instalada”, “equipamentos” e “conhecimentos” para operarem num teatro de operações como aquele que se vive na Turquia e na Síria, que foram devastados por um terramoto de magnitude 7,8 na escala de Richter, na madrugada de segunda-feira.
“A Liga de Bombeiros Portugueses estranha muito isso! Certamente haverá uma explicação, não sei qual é, mas estranho”, afirmou.
No seu entender, é também necessário que o Estado crie uma carreira para os bombeiros voluntários de todo o país, com respetiva tabela remuneratória, para assegurar a resposta no socorro e auxílio às populações.
“A questão que se tem vindo a colocar é de que esses grupos têm de ter uma carreira, têm de ter uma tabela remuneratória, e têm de ter um estatuto, e isso é uma dificuldade que estamos a ter a nível nacional, porque, quer o Governo da República, quer o Governo Regional, ainda não resolveram, completamente esta questão”, advertiu António Nunes.
Na sua opinião, esta questão impõe que haja um reforço do financiamento do Estado aos “soldados da paz”, que deve ser assegurado, de forma “partilhada”, entre o governo e as câmaras municipais.
“É também importante que se perceba que isso deve resultar de um acordo-quadro, existente entre as associações e os governos regional e nacional, e as câmaras municipais, para que tudo fique claro”, sublinhou o presidente da Liga de Bombeiros Portugueses.
Já José Braia Ferreira, presidente da Federação de Bombeiros dos Açores, lamentou o “brutal e repentino” impacto que a nova tabela remuneratória dos “soldados da paz”, aprovada no parlamento açoriano por proposta do PAN, acabou por ter nas contas das associações de bombeiros voluntários da região.
“Aguardamos a criação de um mecanismo jurídico e financeiro que permita ao Governo Regional dos Açores injetar nas associações de bombeiros voluntários, a verba correspondente ao aumento salarial”, insistiu o presidente da Federação de Bombeiros dos Açores, recordando que, além de um aumento de 8% decorrente do acréscimo ao salário mínimo regional, é também necessário pagar mais 8% de aumento, resultante da proposta do partido das Pessoas, Animais e Natureza.
Nesse sentido, Braia Ferreira adiantou que já deu instruções às associações de bombeiros da região para que “não paguem” esses aumentos salariais, sob pena de poderem provocar a “falência das instituições”.
A Síria e a Turquia foram atingidas, na madrugada de segunda-feira, por um terramoto de magnitude 7,8 na escala de Richter, a que se seguiram várias réplicas, uma das quais de magnitude 7,5.
Os sismos já provocaram mais de 21 mil mortos, dos quais cerca de 19.400 na Turquia e pelo menos 3.380 na Síria.