Alexandra Manes, Dirigente e deputada do BE/Açores

No passado dia 29 de setembro, Duarte Chaves inaugurou pomposamente o projeto “Diário de Bordo”, da Direção Regional da Cultura.

O senhor diretor, que deveria estar atormentado com quase todos os apoios às atividades culturais por pagar, e sem ter implementado novas políticas que tenham alterado o que quer que seja, optou antes por tentar inventar a roda e fazer uma caderneta de cromos para angariar visitantes para os seus serviços externos.

Ora vejamos. Os serviços externos da Direção Regional da Cultura contam com problemas estruturais de raiz, graves. Os edifícios estão literalmente a cair aos pedaços, sem condições de segurança, com chuva e vento a fazer companhia a quem os visita, e outras coisas que atormentam quem nos seus bastidores trabalha.

Foi nos serviços externos da direção que agora é de Duarte Chaves que dezenas de pessoas foram sumariamente despedidas no começo de 2023, para honrar compromissos sobre dívidas a zero, que afinal aumentaram tantos milhões que já nem é fácil contá-los todos.

No final deste verão, quatro titulares de cargos de chefia dos serviços externos do senhor diretor foram rasurados e apagados da sua história, sem qualquer justificação que não a política e, provavelmente, os ódios pessoais.

Sabemos agora que na Graciosa, Jorge Cunha não se quis chatear; na Terceira, Cláudia Cardoso foi alegadamente perseguida pela sua cor política; e no Faial, José Luís Neto decidiu não ir a um julgamento quando já se sabia declarado culpado em causa prévia.

João Santos, em Santa Maria, até ao momento, manteve silêncio, mas sabemos que o seu substituto integra os quadros políticos de um dos partidos da coligação. Mera coincidência, certamente.

Ainda assim, os serviços externos da direção regional de Duarte Chaves são irredutíveis na sua luta pela cultura insular e continuam a dar o seu corpo e alma para trabalhar com o quase nada que lhes resta.

Com as condições que lhes dão, é de respeitar o trabalho que fazem. Só é pena que o seu diretor pareça ter-se esquecido de o fazer.

“Diário de Bordo” seria uma boa iniciativa para um diretor de um museu promover, ou até mesmo um animador cultural. Um gestor de marketing ou um museólogo.

Duarte Chaves pode achar que é isso tudo, e disso temos a certeza, quando o vemos a receber prémios na Associação Portuguesa de Museologia ou a organizar Encontros de Boas Práticas sobre a temática.

Mas o que ele é, de momento, é diretor regional, e a sua missão deve ser zelar por melhores condições para quem dá tudo para manter o barco perdido à tona de água.

Não é isso que se vê.

A caderneta de visitas, com direito a prémios e tudo, não é mais do que fogo de vista e manobra de diversão para nos fazer esquecer dos apoios por pagar, do património abandonado, das artes perdidas e dos escândalos multiplicados.

Pode fazer as cerimónias que bem entender, senhor diretor. Nós continuaremos a dar valor às trabalhadoras e aos trabalhadores, à cultura e a lutar para que se faça justiça.