Tem sido público o enorme protesto dos Trabalhadores do comércio e escritórios da Terceira, exigindo um contrato coletivo de trabalho digno. A sua luta é por questões tão básicas que, numa sociedade assente em princípios humanistas, estariam, à partida, asseguradas. Mas não é assim e esta é uma triste realidade, infelizmente demasiado comum, nos Açores e em Portugal, para a estranharmos. No entanto, este caso tem contornos particularmente graves, que mostram os poucos escrúpulos da câmara de comércio de Angra do Heroísmo e o apoio político que tem, do governo regional.
Recentemente, foi assinado um acordo coletivo de trabalho. Lendo-o, vê-se que é um péssimo acordo para esses Trabalhadores. Nem sequer prevê subsídio de alimentação. Os horários de trabalho são imprevisíveis. Os salários previstos não permitem fugir à pobreza. A experiência e o tempo de dedicação à profissão não são valorizados. Alguns dir-me-ão: mas essa é a realidade normal. Pois, é normal mas não devia. Eu não a aceito para mim e não a aceito para os outros. Ninguém deve aceitar isto como normal, porque trata seres humanos como pouco mais que escravos. Mas estes Trabalhadores mostrarão que não aceitam acordos nas suas costas. Mostrarão que aprenderam bem a maior lição que os dois séculos anteriores deram aos Trabalhadores de todo o mundo: isolados, serão derrotados; unidos e firmes, serão imbatíveis.
Os próprios Pequenos Empresários da Terceira começam a revoltar-se contra o acordo da sua câmara de comércio, porque não se revêm naquela lógica. Ao fazê-lo, os Pequenos Empresários mostram que, afinal, são grandes. A par dos Trabalhadores, são eles quem produz a riqueza e mantém a economia a funcionar. São eles que garantem que a riqueza fica na ilha, que contribuem para a dinamização da economia e para que a pobreza não tome proporções mais graves. E, apesar de serem as empresas economicamente mais frágeis e difíceis de gerir, são, normalmente, as Pequenas Empresas que pagam melhores salários, que têm melhores relações de trabalho e que garantem condições de trabalho mais dignas.
Mas o que é mais grave, neste caso, é que a negociação sindical foi feita com um sindicato que, legalmente, não o podia fazer, por não incluir estes Trabalhadores nos seus estatutos. A isto, o governo regional nada disse, aceitando um acordo que é não só inaceitável como, ainda por cima, tem legalidade – no mínimo – muito duvidosa. É mais ou menos como o governo da república negociar com a Madeira as suas obrigações para com os Açores. Será que o governo regional também o aceitaria? É que o princípio é o mesmo…
Portanto, da parte do governo regional e da sua coligação de direita e extrema direita, trata-se de um favor às grandes empresas e o desmentir do seu discurso de combate à pobreza. Neste filme, fazem o papel de mau… Da parte da câmara de comércio, é o reconhecimento que, na prática, decidiram representar apenas os grandes empresários, deixando os Pequenos Empresários à sua sorte, e que estão dispostos a tudo para garantir os lucros, em tempos de dificuldades generalizadas. Neste filme, fazem o papel de vilão… Da parte dos Trabalhadores, é a afirmação da sua dignidade, que não aceitarão ser Trabalhadores no século XXI com direitos do século XIX. Neste filme, fazem o papel de bons – exigem a construção de uma sociedade mais humana! E merecem todo o nosso apoio!