Na próxima semana, assinalaremos o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora. 113 anos depois da comunista alemã Clara Zetkin propor a celebração anual da luta das mulheres trabalhadoras contra a exploração e a guerra, por melhores salários e por horários de trabalho dignos, estamos ainda muito longe de atingir a igualdade e eliminar as discriminações injustificáveis.
Em muitos aspetos, a última década foi de retrocesso, à boleia de uma pandemia que serviu de justificação para todo o tipo de atropelos e de uma crise económica paga pelos mesmos de sempre. Como é hábito, é quem está em situação mais frágil quem mais sofre. E este é um velho e mau hábito, que devia estar erradicado, numa sociedade que se diz desenvolvida e equilibrada.
Em média, os salários das mulheres são 13% abaixo do dos homens. Curiosamente, ou talvez não, esta diferença é ainda maior para qualificações mais elevadas, chegando as mulheres com curso superior a receber menos 25% do que os homens. Assim, estamos a falar de diferenças salariais que, em média, vão dos 150 € aos 600 €.
Até nas profissões em que a regra é o salário mínimo as mulheres acabam discriminadas! São, também, as mais atingidas pelo trabalho instável e precário e pelo desemprego, em particular pelo desemprego de longa duração. São mais sujeitas a doenças profissionais, porque executam funções que mais facilmente provocam lesões músculo-esqueléticas.
Na pandemia, tiveram de conciliar filhos e profissão, sendo muitas obrigadas a ficar em casa a tomar conta dos filhos, ao mesmo tempo que ficavam em teletrabalho. Foram situações de elevadíssimo stress, que deixaram marcas profundas nas mães e nos filhos. Assim, não espanta que a pobreza seja mais pesada entre as mulheres.
Bem sei que muitos destes problemas afetam também os homens que trabalham. Mas são mais diretamente sentidos pelas mulheres, que, historicamente, se encontram em situação mais frágil. A violência doméstica é também resultado da insegurança financeira, que impede muitas mulheres de sair do meio em que são agredidas.
Nesta triste realidade, o conflito não é entre homens e mulheres: é entre quem é explorado no seu trabalho e quem usa as fragilidades para nivelar todos por baixo. Neste modelo económico dirigido para o lucro rápido e assente nos baixos salários, a desigualdade entre homens e mulheres é usada para afetar todos.
Esta realidade não é o resultado de um qualquer acaso, de um fatalismo inevitável, de uma força que resulta da biologia. Muito pelo contrário, as razões têm origem no sistema de produção capitalista.
O lucro sobrepõe-se aos direitos humanos e, frequentemente, aos avanços civilizacionais. Fá-lo impondo-se pela força: quem tem o dinheiro dita as regras que regem a sociedade. A parte mais fraca é, obviamente, os trabalhadores, sendo as mulheres trabalhadoras as mais exploradas.
Para combater esta realidade, a CGTP promove, anualmente, a Semana da Igualdade, porque há alternativas e cabe a todos os que não se identificam com este presente lutar por um futuro melhor. Por isso, esta luta não é entre homens e mulheres.
É entre quem explora o trabalho alheio, impondo condições de vida injustas, e quem luta para sobreviver. Da minha parte, há muito tempo que já escolhi de que lado estou.