Rui Teixeira, dirigente do PCP Açores

Na próxima semana, a Revolução de Abril iniciará o caminho para cumprir meio século. 50 anos parece muito tempo. Talvez quem me leia poderá pensar que o título é arriscado. Como é que algo que aconteceu há 50 anos pode ser considerado Futuro? Pois se, de vez em quando, até se ouve que precisamos de uma nova revolução… Mas, olhando com atenção para o percurso dos Açores desde o 25 de Abril, perceberemos que o problema não é esta ser uma Revolução datada, ultrapassada pelo tempo. O problema foi a interrupção das suas maiores conquistas.

E de que conquistas falo eu? Do combate à pobreza, do direito à habitação, à saúde, à educação e à proteção social, para todos, e não apenas para uma elite de privilegiados do sistema económico e político que oprimia o país e os Açores. Falo da Democracia, da Liberdade, da Paz e do fim da guerra, da transformação de um país isolado, internacionalmente, para a abertura plena de Portugal, dos Açores, para o Mundo. Falo de uma economia assente na produção e na distribuição justa da riqueza.

Foram essas transformações políticas e económicas que Abril nos trouxe, mas que pouco tempo depois foram interrompidas pela ação do poder económico que cresceu com o fascismo, à custa da exploração brutal do Povo Português, à custa do isolamento dos Açores e dos Açorianos. Um poder económico que não descansou até se apoderar, de novo, de muito daquilo que a Revolução lhe tirou para que fosse distribuído por todos. Era para favorecer esse poder económico que o fascismo promovia o ódio, o racismo, a violência, a opressão, a exploração, a pobreza, o analfabetismo, que recusava à esmagadora maioria o acesso aos cuidados de saúde, que enviou para a guerra milhares de Açorianos. Muitos não regressaram.

Quem ama a Liberdade, quem acha que a Democracia é o único sistema possível neste século, quem acha que a cooperação, o humanismo, a igualdade de direitos e de deveres são os princípios que devem orientar as relações humanas, quem sabe o que foi a ditadura, não pode deixar de repudiar a promoção sem vergonha de forças políticas de extrema-direita, que têm muito de parecido com um Portugal que pensávamos para sempre enterrado. Afirmam-se contra o sistema sem assumirem que estão contra o sistema democrático e que defendem o que tem de pior o nosso sistema económico. Escondendo que vivem do apoio dos grandes interesses económicos, daqueles prejudicados diretamente pelas mais belas conquistas de Abril!

Por todas estas questões, Abril não é apenas presente. Só poderemos construir um Futuro que sirva a todos, em que todos tenham o direito a ser felizes, assumindo em pleno os valores de Abril! Pegando nas palavras de Ary dos Santos, com as Portas que Abril abriu! Ou, como diria Sophia de Mello Breyner, será sempre com Abril que se constrói esse Futuro, inteiro e limpo!

Procurando contribuir para este debate, até aos 50 anos do 25 de Abril este vai ser um tema recorrente neste espaço de opinião – começando já na próxima semana, com as comemorações do 1.º de Maio. E, pela importância da data, deixo o desafio a todos os que puderem: que se juntem às iniciativas de comemoração dos 49 anos da Revolução. Da minha parte, lá estarei, desta vez no Campo de São Francisco, mas com o coração em cada ilha. Juntando a voz a todos os que exigem que seja nossa, mais uma vez, esta Nossa Revolução!

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