O altar redimiu o dr. Costa. A Providência tem destas coisas, vem para todos, opera milagres mesmo em gente convictamente laica e republicana; o céu não faz distinções. E por uma semana os portugueses tiraram os olhos da bagunçada da governação, digo, da instabilidade política, das suspeições de compadrio, da ruinosagestão do dinheiro dos contribuintes.
Nada mudou, mas os jornais e as televisões voltaram a atenção para o altar das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), nele sacrificando a Igreja e a Câmara de Lisboa, quais cordeirinhos imolados no lume brando da hipocrisia e dos ódios de estimação que o catolicismo suscita em certas cabecinhas. Por arrastamento, a derrota das esquerdas na capital ainda não foi devidamente digerida pela turba apeada e respetivos avençados, inflamando os protestos contra os desmandos financeiros da construção do afamado altar.
Não restam dúvidas, o custo das obras é exagerado e desproporcionado no contexto económico e social do país, aliás, como foram e são os encargos com outros eventos financiados pelo erário público, do Europeu de futebol de 2004 à WebSummit,por exemplo. Com a diferença abissal de que nestes casos o fanatismo das seitas absolveu os autoresde taldesregramento. Dez estádios faraónicos, alguns com porta fechada ou esporádica utilização, acabaram custando o equivalente a 14, sem apupos ou arremessos das claques, que se visse. E 110 milhões de euros para a liturgia i-techdo guru da Web Summit mantém em silêncio o coro revolucionário, defensor dos indigentes lusos.
Enquanto os organizadores da JMJ se penitenciavam na praça pública, por pouco escapando à justiça do pelourinho, a presidente «da TAP era bafejada com dois milhões de euros de bónus, por relevantes serviços prestados na gestão da companhia, qual voo celestial…