Opinião: Joaquim Machado | Ricas Damas

Leio no jornal Público que foi deduzida a acusação do Ministério Público (MP) contra a antiga presidente da associação Raríssimas. O caso não é novo, mas tem agora outro impulso, digno de registo no tempo habitualmente lento da justiça. Segundo o MP, aquela associação custeou despesas pessoais da ex-presidente – de vestidos de marca no valor de centenas de euros a contas de restaurante, passando por serviços de depilação, faturas de talho e pastelaria. Tudo isso, a ser verdade, é chocante e mais ainda por a dita associação se dedicar ao trabalho com pessoas portadoras de doença rara, suas famílias e cuidadores, como IPSS, vivendo dos contratos celebrados com o Estado, do mecenato, da quotização dos seus associados e contributo dos bem-feitores. E, por regra, tais instituições não têm contabilidade desafogada.

O que faz, então, tanta gente prevaricar no exercício de funções de topo, nestas organizações, como no Estado? Só pode ser um sentimento de superioridade e impunidade. Sentem-se donos dos cargos e das instituições, moldando-os a seu belo prazer, fazendo tábua rasa da lei, rodeados de indefetíveis apoiantes que se alimentam do mesmo orçamento, num jogo identitário de favores e dependências.

E este mal tende a generalizar-se, nos grandes lugares e nos pequenos meios, sem que os órgãos de fiscalização, as forças policiais e os tribunais lhes ponham cobro. Dir-se-á que em muitos casos são pequenos abusos permitidos pelos alçapões da lei. Talvez. Mas a ausência da ética abre caminhos que facilmente levam ao desmando e à corrupção.

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Nas nossas vidas insulares não faltaram damas, consortes de poderes instalados, que se arrastaram por palácios e palacetes à custa do contribuinte, ao arrepio de qualquer escrutínio. Pagámos sem pestanejar, dispensando-lhes as vénias do costume.

 

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