De uma maneira geral, vulgarizou-se a crítica incisiva e fácil aos agentes políticos e às instituições. Poucos escapam a um crivo declaradamente populista que se dissemina e robustece nas redes sociais e nos tabloides. Dizer bem de um político parece estranho e ninguém se atreve a destoar e ir de encontro ao senso tido por comum.
Mas também não se pode ignorar quanto alguns políticos contribuem para tal estado de coisas. A sucessão de casos de suspeição em torno de ilegalidades, abusos de poder e duvidosa ética, que enxameiam os media nacionais, deixa em todos a convicção de que a política portuguesa é um terreno lamacento. E não é. Ou não devia ser.
Perigosamente resvalamos para uma crise profunda, talvez com efeitos mais devastadores do que os da crise inflacionária. Porque sem rumo não há forma de enfrentar os problemas económicos que já atingem a bolsa de cada um e de todos, nem fazer as reformas estruturais que são urgentes para modernizar o país. O governo da República, empossado há apenas dez meses, rapidamente desbaratou o estado de graça que era suposto ter e fazer durar com a maioria absoluta que lhe foi confiada nas urnas. Em vez disso, António Costa oferece aos portugueses sucessivas remodelações nas pastas governativas, motivadas por suspeitas de corrupção, ilegalidades, compadrio e toda a sorte de atropelos à proclamada ética republicana.
Sem fim à vista, mais ministros se enfileiram para justificar duvidosas decisões governamentais, até agora escondidas dos contribuintes que é quem paga todo este desmando. Marcelo já afastou a hipótese de dissolver o Parlamento. Até quando resistirá? Por muito menos, incomparavelmente menos, outro Presidente convocou eleições antecipadas.
A maioria absoluta do PS de 2005 levou o país à bancarrota. A história repete-se?