A carne é fraca e facilmente cede à tentação. Também na política, onde o poder inebria os que o querem conquistar ou a ele desejam voltar, como é o caso de Vasco Cordeiro. Antes trágico, agora sedutor na oposição, o presidente do PS luta entre a memória e o esquecimento, num messianismo desesperado, já que o tempo escasseia e o governo mostra-se capaz de ir até ao fim do mandato. E isso abrevia o destino inevitável do dr. Cordeiro.
Como no filme de Martin Scorsese, o dilema entre o humano e o divino, também a liderança socialista vacila entre fazer oposição ou mostrar-se redentor para todos os males que vão no mundo, entenda-se, nos Açores. Com a diferença de que sabemos o que andou a fazer nos oito anos em que foi dono disto tudo.
A última tentação do dr. Cordeiro é imolar já o governo da Coligação. Repito, o tempo escasseia, as tropas estão exaustas, a concorrência interna empertiga-se quinzenalmente nos domingos televisivos, arrisca-se de remediado transformar-se num líder sem remédio. A moção de censura é, pois, a salvação tentadora.
Em pleno Carnaval, altura em que ninguém leva a mal, o socialista-mor tratou de testar a solução, saber a opinião dos açorianos por tão expedito método de condenar à cruz a Coligação. Ironicamente, entre malassadas, filhoses, bailinhos, limas e máscaras, a empresa de sondagens fez soar os telefones para inquirir os foliões: “Concorda com uma moção de censura ao governo regional?” A piada faz-se a si mesma. Atónito, o questionado julgou tratar-se de uma brincadeira da época e deu a resposta que a viralidade do momento exigia e se impõe. Vamos ver o que o dr. Cordeiro decide com o dito estudo de opinião. Talvez o negue, três vezes. Provavelmente que continuará a dar muitos tiros, poucos certeiros. O nervosismo degrada a pontaria e o crédito.